O Globo - 10 de abril de 1963
“3 – …..Só recentemente é que, por acaso, conheci uns dois ou três banqueiros. Um dêles foi o Zé Luís, do Banco Nacional de Minas Gerais. Diz o Otto Lara Resende que o mineiro só é solidário no Câncer. O Autran Dourado vais mais longe e afirma: – “O mineiro só é solidário na exumação.” Pois bem. O mineiro Zé Luís já é solidário na brotoeja”.
“4 – Ainda outro dia, estive eu, com o Otto, no banco. Íamos almoçar com o Zé Luís, que eu e o colega chamam de “ o Poder Econômico”. Passamos lá uma hora e quebrados. Manda a verdade que se diga: – o almoço estava péssimo. Durante todo o tempo, o Zé Luís martelava numa tecla só: – “O que eu posso fazer pelo Grande Otelo?”…
“5 – Ora, o Zé Luís está a mil léguas da usuraria do “Crime e Castigo”. Se Raskolnikov o conhecesse teria pendurado o machado. Em vez de matar, havia de carregar o Zé Luís no colo. E o Dostoievski não teria escrito nenhum “Crime e Castigo”. Só imagino o Raskolnikov com um papagaio no Zé Luís ou, lá comigo e com o Otto, filando um almoço execrável.”
O Globo - 1963
“3 – Todavia, enquanto não embarca, está existindo mais do que nunca. Todos os dias, há sempre quem lhe ofereça um jantar, um almôço de despedida. Jamais um sujeito foi tão despedido. E, sexta-feira, o Zé Luís Magalhães Lins recebeu o Otto lá na casa do Humaitá. Ora, o Zé Luís tem a mais doce casa do Brasil e o jantar ao Otto foi uma dessas coisas inesquecíveis.”
“4 – … a perspectiva do exílio fez do Otto outro ser. Na casa do Zé Luís, ele era um úmido, um lírico, um comovido. Das nove da noite às quatro da manhã, andou sempre a um milímetro do soluço. E vamos e venhamos: – na casa do Zé Luís, quase o carregamos na bandeja, e de maçã na boca, como um leitão assado.”
“5 – … Por exemplo: – o Zé Luís, o citadíssimo Zé Luís, do Banco Nacional de Minas Gerais. Outro dia, o Otto me chamava à atenção para a palidez do jovem banqueiro. Exato, exato! É pálido como um Werther. Ou melhor: – tem a cor daqueles santos da “Thais” anatoleana, que iam para o mato comer gafanhotos. E quando faltavam os gafanhotos, eles mordiam o bico das próprias sandálias. Era lindo. Pois bem: – o Zé Luís tem a palidez intensa, as mãos diáfanas do martírio.”
“6 – Mas o que eu queria dizer é que êle devolve ao dinheiro a pureza antiga, a inocência perdida. O dinheiro se torna imaculado, e terno, e misericordioso. Por exemplo: – Zé Luís anda emprestando ao teatro brasileiro, ao pobre, ao franciscano teatro brasileiro. Imaginem o cínico milagre. O Zé Luís chegando e dizendo para companhias moribundas, já com a rigidez cadavérica: – “Levanta!” E a companhia levanta mesmo e sai por aí, como uma Lázara. Por isso, eu já não o chamo mais de “Poder Econômico”. Por que não dizer, em vez disso, o “Amor Econômico” ou a “Ternura Econômica?”
“8 – ….No caso de Zé Luís, o que se prova é que o dinheiro é um mísero detalhe. O que vale é a misericórdia, o amor e o tremendo calor humano. ..”
“9 – ….Um povo está potencializado quando começam a aparecer, aqui e ali, resistências contra o Poder Econômico . Ou, como no caso de Zé Luís, quando o Poder Econômico se humaniza e tem esse toque de Graça, de Amor.”
O Globo - 02 de agosto de 1962
“ 4 – Cito sempre o Zé Luís, do Banco Nacional de Minas Gerais. É bem o nôvo brasileiro, com cara de ginasiano, que começa a fazer história, começa a fazer Brasil. E o sujeito que fecha um grande negócio com o Zé Luís tem vontade de perguntar-lhe: – “Como é? tem tomado muita carona em bonde?” E, no entanto, esse menino que ainda podia usar o uniforme do Pedro II, vive cercado de milhões por todos os lados. O romance, o conto, a poesia e a crônica estão penduradas no Zé Luís. Raro o literato, ou subliterato patrício, que não tenha lá, um papagaio. E mais: – o Zé Luís empresta pela inflexão. Com uma inflexão piangente, o intelectual leva o dinheiro. O mais espantoso é que, na data certa, o sujeito paga, com escandalosa pontualidade.”
“ 5 – Quem vê a ascensão de um Zé Luís pergunta se os velhos foram varridos. Não…..”
O Globo - 13 de novembro de 1963
“3 – ….Era o Otto Lara Resende (sempre este nome fatal). E meu caro amigo e personagem convidou-me para almoçar com o Zé Luís, no Banco Nacional de Minas Gerais. Há sujeitos que nascem, envelhecem e morrem e não têm a sorte, rara e deslumbrante, de almoçar, ao mesmo tempo com dois banqueiros. Dois!”
“4 – … Entramos juntos, eu e o Otto, ou seja: – eu e o mito, eu e o banqueiro. Já o Otto me advertira que, desta vez, o Zé Luís premeditara um almoço suntuário. E, de fato., quando nos sentamos à mesa (ponho a crase com o maior asco), apareceu um mordomo que não tinha nada a ver com a vida real.”
“5 – …E o meu almoço, com o Otto e o Zé Luís, foi superiormente orientado por um mordomo de filme policial inglês…”
“6 – Começamos a comer com uma voracidade total. E, de repente, na metade de um frango assado, descobrimos essa coisa linda: – eu era o menino de Aldeia Campista, o Zé Luís o menino do Engenho Nôvo e o Otto o menino de São João Del Rey….”
“7 – …O Otto fez uma inconfidência esplêndida, com relação a certos apetites incoercíveis do Zé Luís. Certa vez o escritor o surpreendera comendo pipocas em bacias. Não resta dúvida: – o sujeito que come pipocas em bacias está salvo.”
“8 – …Já não havia mais nada para comer. E, então o Zé Luís dá a ordem inesperada e surpreendente: – “Traz o sanduíche!” ….
Jornal dos Sports - 05 de março de 1966
“4 – De repente, baixa no Havelange, uma vidência luminosa e ele enxerga o homem para a crise. Estava ali, na esquina de Ouvidor com Avenida, trabalhando no terceiro andar. Era o jovem banqueiro José Luiz de Magalhães Lins. Ninguém melhor, mais capaz, mais probo, mais brasileiro, mais patriota. Zé Luiz era sim, o substituto ideal.”
“5 – A partir do momento em que se lembrou do moço banqueiro, e o convidou, Havelange está, se é que errou, ampla e espetacularmente reabilitado. Pois, ao contrário do que se pensa, não era o time búlgaro o primeiro adversário do Brasil. Antes tínhamos de escolher o novo chefe. E a presença do Zé Luiz significa que o Brasil ganhou a primeira batalha do Tri.”
“6 – Vejamos, rapidamente o que significa o novo chefe da delegação brasileira. Sabe-se que seu cargo nada tem de decorativo. Zé Luiz está numa função decisiva. De suas relações com os jogadores, com a Comissão Técnica, do seu equilíbrio, de sua clarividência, de sua doçura e do seu patriotismo, da defesa que fizer dos nossos interesses, de sua paixão e de sua competência depende, e muito, a sorte do Brasil”
“8 – Estejam certos de que o Zé Luiz não nasceu para perder. Ele tem, cravada no coração, a estrela da vitória.”