José Luiz de Magalhães Lins

Curiosidades

Correio da Manhã – 2º Caderno, Edição de 06/06/1966

Sobre a recusa de José Luiz de Magalhães Lins para chefiar a delegação de futebol do brasil na copa do mundo da Inglaterra

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JOSÉ LUIZ NÃO ACEITA A CHEFIA

Sob a alegação de que “a missão exige, a meu ver, um nome perfeitamente identificado com o mundo do esporte” e de que “as providências que seria fatalmente levado a propor poderiam agravar dificuldades que estão na origem da crise”, o sr. José Luiz de Magalhães Lins, em carta endereçada ao sr. João Havelange, comunica que não poderá aceitar a chefia da delegação brasileira que irá disputar a Copa do Mundo, em Londres.

Na sua carta, o sr. José Luiz de Magalhães Lins sugere, ainda a indicação do próprio sr. João Havelange para o cargo, considerando-o como homem que “reúne autoridade, prestígio e confiança indispensáveis à solução natural do impasse”. Conclui o sr. José Luiz de Magalhães Lins informando que a sua decisão tem caráter irrevogável.

SURPRÊSA

Desde anteontem, sabia-se que o sr. José Luiz de Magalhães Lins estava indeciso com relação à aceitação do convite que lhe fora formulado pelo sr. João Havelange, muito embora o tivesse recebido com satisfação e estivesse disposto, a princípio, a aceita-lo.

Diante dos comentários injuriosos, surgidos principalmente na imprensa paulista, segundo os quais a sua escolha envolvia interesses financeiros da CBD e por outras razões, alegadas em sua carta, o sr. José Luiz resolveu, ontem, desistir da chefia, apresentando como solução para a crise o nome do próprio Havelange para a chefia.

A CARTA

“Rio de Janeiro, 5 de março de 1966.

Prezado Amigo

João Havelange:

Profundamente sensibilizado com o seu convite para chefiar a delegação do Brasil no Campeonato Mundial de Futebol, venho agradecer-lhe o gesto que tanto me distinguiu.

Estou certo de que a generosa lembrança do meu nome ocorreu-lhe depois que se frustraram os esforços, de que também participei, para manter na chefia da delegação o dr. Paulo Machado de Carvalho.  Como sabe o prezado Amigo, atendendo apelos de esportistas ilustres, vinha desinteressadamente há dias me empenhando na busca de uma solução conciliatória capaz de restabelecer o clima de harmonia que permitiu ao futebol brasileiro a conquista do glorioso título de bicampeão mundial.

Não foi outra a razão por que solicitei ao prestigiado industrial paulista dr. Octavio Frias, meu ilustre amigo, que dirigisse mais um apelo de paz ao dr. Paulo Machado de Carvalho.  Êste, porém, lamentavelmente preferiu reafirmar a sua renúncia, em caráter definitivo, por meio de carta do próprio punho endereçada ao presidente em exercício da CDB, sr. Sílvio Pacheco.

Depois de proceder a criterioso exame da situação e tendo refletido maduramente, convenci-me de que não sou a pessoa mais indicada para assumir nesta hora a chefia da delegação brasileira.  A missão exige, a meu ver, um nome perfeitamente identificado com o mundo do esporte.  Além do mais, as providências que seria fatalmente levado a propor poderiam agravar dificuldades que estão na origem da crise.  Eis por que tomo a liberdade de sugerir o seu próprio nome que, como presidente da CDB, reúne autoridade, prestígio e confiança indispensáveis à solução natural do impasse.

Afirmando o caráter irrevogável desta minha decisão, reitero os meus agradecimentos e, na oportunidade, formulo os mais sinceros votos para que o Brasil traga de Londres, definitivamente, a Taça Jules Rimet.

Cordialmente,

José Luiz de Magalhães Lins.”