Página 92
“… o Cinema Novo alimentou-se de Euclides da Cunha, Portinari, Villa-Lobos, Gilberto Freyre, Josué de Castro, José Lins do Rego, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Nelson Rodrigues, Mário de Andrade, Lúcio Cardoso – para se ver como o Cinema Novo era chique. Mas alimentou-se também, mais do que devia, de Jean-Luc Godard, o que fez o público guardar uma distância ainda maior dos filmes. Estes empolgavam os críticos estrangeiros e colecionavam prêmios em festivais, mas mal se pagavam por aqui.
Cada filme era um parto para ser rodado e muitos deles não teriam existido se não fosse pelo Banco Nacional, leia-se José Luiz de Magalhães Lins, em empréstimos a perder de vista.”
Página 295
“Petite Galerie
1954-88
Galeria de arte na rua Teixeira de Melo, 53 e depois na rua Barão da Torre, 220.
Os anúncios da Petite Galerie diziam: “nenhuma obra de arte ficará diminuída se você pagá-la aos poucos. E ela ainda enriquecerá sua sensibilidade e seu patrimônio”. Foi também a primeira a promover leilões de arte, alguns deles chiquíssimos, no Copacabana Palace – uma prática combatida na época e hoje corrente no mercado. A Petite Galerie nasceu em Copacabana, numa cave com um pé-direito de mísero 1,80 metro na Avenida Atlântica, ao lado do antigo Cinema Rian. Mas, o Napolitano Franco, no Rio desde 1947, sempre foi um personagem de Ipanema. Em 1960, ele se associou a José de Carvalho, proprietário das lojas Ducal, e ao banqueiro José Luiz de Magalhães Lins, e levou a galeria para a praça General Osório, num espaço projetado pelo arquiteto Sérgio Bernardes. Foi a grande fase dos leilões e dos contratos de exclusividade com Di Cavalcanti, Guignard, Carlos Scliar, Milton Dacosta, Maria Leontina, Glauco Rodrigues, Gastão Manuel Henrique, Rubem Valentim, Marcelo Grassmann. Em 1971, a sociedade foi desfeita e Franco mudou-se para a rua Barão da Torre. No antigo espaço da Petite Galerie, José de Carvalho abriu a Bolsa de Arte, que também marcou época.”
Página 304
“… Quartin (…) aos 22 anos, em 1963, com um empréstimo tomado ao banqueiro José Luiz de Magalhães Lins, ele criou o selo Forma, que se tornaria um grande celeiro da Bossa Nova. Luis Eça, Baden Powell, Eumir Deodato, Vinicius de Moraes, Moacyr Santos, o Quarteto em Cy, Anna Margarida, Victor Assis Brasil, Francis Hime, Dulce Nunes, o Bossa 3, o violonista Candinho, todos gravaram discos definitivos pela Forma. Alguns entraram pela primeira vez num estúdio pelas mãos de Quartin e em pouco tempo dispensariam os cartões de visita em dois ou três continentes.”
Página 366
“… em 1961, a criação do teatro Santa Rosa (rua Visconde de Pirajá, 22) mobilizara Ipanema. A começar por sua localização: o Santa Rosa ficava no subsolo do prédio (aliás, na garagem) e, para que ali pudesse funcionar um teatro, fora preciso uma lei especial do prefeito Sá Freire Alvim. Poltronas, luzes, equipamento, tudo saiu da ajuda (em dinheiro ou aval) de particulares, entre os quais Laura Alvim, Paschoal Carlos Magno, comerciantes, grã-finas sensíveis e, principalmente, o banqueiro José Luiz de Magalhães Lins. Não havia quem não apoiasse a idéia de Leo Jusi, Hélio Bloch e Gláucio Gill, os criadores do Santa Rosa: a de um teatro que só levasse peças brasileiras. Não por um nacionalismo oco, mas para tentar equilibrar o jogo: a maioria das salas do Rio preferia peças estrangeiras, de tiro certo na bilheteria. O Santa Rosa (homenagem ao cenógrafo e artista plástico Thomaz Santa Rosa (1909-56), não à santa), prometia promover a dramaturgia nacional, revelar autores e trazer o Brasil para o palco.
Prometeu e cumpriu. Seu primeiro espetáculo, Procura-se uma rosa, já foi uma sensação.”