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“… Lacerda não agüentava mais as dívidas, tinha que vender a Tribuna, mas não havia quem comprasse, porque era um jornal marcado. O José Luiz Magalhães Lins disse então ao Brito: “Você assume as dívidas, eu dou um dinheirinho para o Lacerda, e você fica com a Tribuna da Imprensa.” Foi assim que o Brito comprou a …”
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“Agora, tem o lado político, que é da maior importância. Na sucessão do Médici, antes de o Geisel ganhar a queda de braço graças ao irmão, houve tentativas: primeiro, tentou-se a reeleição do Médici; depois, quando ficou muito visível que não daria certo, surgiu a hipótese de um presidente civil e pensou-se no nome de Leitão de Abreu. E o Jornal do Brasil engajou-se no Leitão de Abreu. Sei que houve uma reunião em que isso foi decidido, à qual não compareci, porque nunca me senti na parte política, mas me foi contada. É pena que três partícipes dessa reunião já tenham morrido: Miguel Lins, Otto Lara Rezende e Carlos Castello Branco. Um está vivo, é o José Luiz Magalhães Lins, que foi czar da imprensa brasileira nos bastidores, mandou na imprensa brasileira de 60 até setenta e poucos, pelo Banco Nacional de Minas Gerais. Homem magro, branco, frio, mãos geladas, tímido pra burro, mas o homem que construiu o Banco Nacional. Era primo do Magalhães Pinto, e os dois filhos do Magalhães Pinto tinham ciúmes dele. Eu acompanhei a carreira do José Luiz, desde os anos 50. O meu primeiro papagaio foi ele quem me deu em 58, quando eu ainda estava na Manchete. Era um homem que gostava do poder, mas não queria aparecer, usava o poder pelo poder, não usufruía o poder. Com uma série de recursos do banco, com a simpatia dele, ficou amigo de todos os donos de jornal. Era íntimo do Roberto do Marinho, era íntimo do Brito, que não se dava com Roberto Marinho, era íntimo do Chagas Freitas, que era muito importante, porque era presidente do sindicato patronal, era íntimo de todos. Ajudava muito à esquerda, ajudou o Cinema Novo, mas não tinha nada de esquerda. Era amigo de todo mundo: do Lacerda, do Jango, de não sei mais quem. Quando Jango começou a ficar cheio de parlamentarismo e a dizer que queria o presidencialismo, quem comandou o comitê que fez a campanha do plebiscito, inclusive com dinheiro, foi o José Luiz. Para vocês verem a capacidade desse homem. Anos depois ele estaria no golpe. Era fantástico, tinha amigos em todas as partes. Mas não freqüentava, não andava por ai, ficava na casa dele.”
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“O Jornal do Brasil tirava mais que O Globo naquela época? Muito mais ! Inclusive, houve um famoso embate – ainda estávamos no prédio velho, portanto, provavelmente era 1972 – que foi espetacular: O Globo resolveu sair aos domingos e o Jornal do Brasil resolveu sair às segundas-feiras. E aí houve uma briga. José Luiz Magalhães Lins pacificando, Chagas Freitas tentando pacificar.”