José Luiz de Magalhães Lins

Crônicas e Artigos

Entrevista com Luiz Carlos Barreto – 15 de março de 2005

Revista Contracampo

Clara Linhart, Camila Maroja e Daniel Caetano

“É o seguinte: nós estamos pedindo para as pessoas falarem de onde todo mundo veio para parar lá, e o que fez depois. A proposta é fazer um mini-documentário sobre cada entrevistado. A gente queria fazer um documentário sobre algo que a gente goste. A gente não queria falar apenas do filme. Usar o filme…

”Vamos lá. Conheci o Joaquim, primeiro foi pelo Garrincha, Alegria do Povo. Foi uma história até engraçada, por que eu não conhecia o Joaquim, nunca nem tinha ouvido falar no Joaquim. Aí eu tava na casa do Zé Luís Magalhães, que era banqueiro, casado com uma prima dele, a Nininha Nabuco, e o Zé Luís falou pra mim: “Olha, esse filme do Garrincha…” ele estava financiando o filme pelo banco, e falou “eu tenho um primo que é cineasta e acabou de chegar da Europa, fez um curso de cinema verdade, conversa com ele, quem sabe…”, e tal. Pensei “Primo de banqueiro, o que será?”… Mas eu disse: “Manda ele me telefonar”, e ele me telefonou. Aí eu saquei que o Joaquim era um cara que exatamente chegava na hora daquele filme, o Garrincha. Ele tinha feito um curso de cinema-verdade na França, com François Reicheinbach, ele tava vindo na onda do Cinema Vérité . Então chamei pra gente fazer o Garrincha, alegria do povo juntos, era um projeto meu com o Armando Nogueira, e a gente estava ainda pensando quem ia dirigir, é um documentário… Ai o Joaquim chegou com essa apresentação do José Luís Magalhães Lins, e a gente percebeu que ele era o homem que a gente realmente precisava para fazer o filme. Ai a gente formou a equipe, Mário Carneiro, David Neves e tal… E o cinema verdade exigia som direto. E o som direto não existia no Brasil na época. No Brasil, não tinha equipamento para o som direto, Nagra ou Perfectone, os gravadores leves… Aí na primeira filmagem, em Pau Grande, nós transportamos praticamente um estúdio de som, máquinas enormes pra fazer a colheita do som direto. E deu tudo certo, foi ótimo, foi o primeiro filme do cinema brasileiro nos anos 60 que foi na técnica do cinema-verdade. E aí fizemos o Garrincha… com grande prazer, e tal, o filme tomou um aspecto muito moderno, porque não ficou um documentário com narrativas, as narrações de locutor eram intervenções muito pequenas, fugindo daqueles padrões todos… Inclusive alterou toda a maneira de filmar futebol. Todo mundo fala, mas quem revolucionou a maneira de se filmar futebol foi o Joaquim com o Garrincha, Alegria do povo.”

Você começou a trabalhar em cinema com Nelson Pereira em “Vidas Secas” …

“… E depois Glauber ficou muito meu amigo, vinha ao Rio e ia lá pra casa, e aí um dia, ele apareceu com um negócio do Roberto Farias. “ Tem aí um diretor, o Roberto Farias que vai fazer um filme o ‘Assalto ao Trem Pagador’, e tal, e você deveria escrever o roteiro com o Roberto Farias…”. Mas eu nunca fiz um roteiro de cinema!”, “ Não, e tal, e você tem que fazer, não tem segredo!…” . Aí eu fui fazer o roteiro com o Roberto Farias. E então depois resolvi me interessar por produção, como é que produz, como faz… E o Zé Luis, parente do Joaquim Pedro, emprestava dinheiro pelo banco para fazer o filme.”

Entrevista concedida a Clara Linhart, Camila Maroja e Daniel Caetano.