José Luiz de Magalhães Lins

Trechos de Livros

Marighella

O Guerrilheiro Que Incendiou o Mundo

Mário Magalhães

Página 271

“…O Banco Nacional de Minas Gerais se distinguia: como um apostador que arrisca palpites variados para escapar de surpresas, socorria a direita e a esquerda. O dono da casa bancária era o governador de Minas, Magalhães Pinto, udenista com ambições na eleição para o Planalto, prevista para 1965. Representava-o um sobrinho, José Luiz de Magalhães Lins, diretor executivo do Nacional. Mal chegado aos trinta anos, ele era celebrado como mecenas das artes.  Se o editor e militante comunista Ênio Silveira se apoquentava por falta de patrocínio para uma coleção de clássicos da literatura, o empresário acudia-o, e as contracapas dos livros da Civilização Brasileira o incensavam como “um banqueiro a serviço do Brasil e dos interesses nacionais”.  Seu nome corria as telas nos agradecimentos de filmes como Os fuzis, de Ruy Guerra – sem o seu amparo, o Cinema Novo não teria sido o que foi.

O Banco Nacional emprestou à UNE, presidida por José Serra, um jovem de olhos tristonhos que parecia ter uma idade que só anos depois atingiria.  O acadêmico de engenharia integrava a AP, agrupamento socialista de berço católico, à esquerda do PCB. “Era a política da boa vizinhança”, recordou Magalhães Lins, acerca do mecanismo de prevenção que o porvir designaria como blindagem política.  Quando sobreveio o golpe de Estado, para o qual o banqueiro conspirou, a entidade estudantil não pagou, e a dívida dissipou-se na rubrica de lucros e prejuízos.”

Página 272

“… Com o plebiscito para decidir a forma de governo definido para 6 de janeiro de 1963, Jango convidou Magalhães Lins para coordenar a campanha do presidencialismo. A volta ao antigo regime favorecia Goulart, de olho na restauração dos poderes, e os postulantes à sucessão, como Magalhães Pinto e Juscelino Kubitschek. Jango lamentou com Magalhães Lins a escassez de pichações, mas já descobrira a solução: como o PCB dava as cartas entre os sindicalistas do Correio, seus militantes cobririam as paredes com slogans até nos mais remotos logradouros. Só faltava dinheiro. O ex-deputado comunista Roberto Morena entrou sorridente e de chapéu no QG da campanha, em um hotel. Saiu com o bolso forrado para a compra de 5 mil baldes, brochas, cal e outras despesas.

 

Deu  certo: em todo o Brasil, os muros se coloriram com o não, a alternativa dos presidencialistas na cédula.”

Página 276

“…Jango não era um sedutor apenas para as senhoras que cativava. Crescera ao redor do fogo de chão, mateando tanto com os fazendeiros vizinhos quanto com os peões da sua estância. Para o banqueiro Magalhães Lins, ele era um homem doce.”