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… Serpa integrava, junto com o banqueiro José Luiz de Magalhães Lins e os advogados Sérgio Bermudes e Antonio Bulhões de Carvalho, uma categoria bem carioca, a das Eminências Discretas-Mas-Nem-Tanto. As Eminências trafegavam entre donos de jornais, políticos e banqueiros, apartavam brigas entre eles, promoviam reconciliações, azeitavam acordos, faziam amigos e influenciavam pessoas – desde que as pessoas fossem ricas e poderosas. …
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“… na porta de um elevador no Palácio do Planalto e Roberto Marinho fez o único comentário possível, um banal: “Que coisa, heim?”. Evandro Carlos de Andrade nasceu no Maranhão, trabalhou na Floricultura da família, foi caixa de hotel e tentou ser advogado. Deve ter batido algum recorde porque fez três vezes o primeiro ano de direito, em épocas e faculdades diferentes, e nunca foi adiante. Trabalhou no Diário Carioca de Horácio de Carvalho, cobriu a morte de Getúlio, as campanhas de Juscelino e Jânio, e foi articulista político do Jornal do Brasil, de O Estado de S. Paulo e do Jornal da Tarde antes de assumir a direção da redação de O Globo. Quem sugeriu o seu nome a Roberto Marinho foi a mais discreta das Eminências, José Luiz de Magalhães Lins, amigo de ambos. Andrade teve dois encontros com Roberto Marinho e, logo no primeiro, avisou: “Eu sou papista”. O cardeal cumpriria as ordens do pontífice de O Globo. Mas se discordasse, se demitiria. Demitiu-se três vezes, e nas três o papa voltou atrás em suas ordens e o convenceu a reconsiderar.”
Páginas 255 e 256
“Na manhã marcada para falar com o pessoal de Collor, Roberto Marinho ligou pelo telefone interno para Boni e avisou que a reunião seria na sala de Miguel Pires Gonçalves, filho do Ministro de Exército de Sarney, o general Leônidas. Miguel fora nomeado diretor financeiro da Globo por sugestão de José Luiz de Magalhães Lins, ex-diretor do Banco Nacional e do BANERJ a seu amigo Roberto Marinho …”
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“No segundo semestre de 1990, Nascimento Brito mostrou a Antônio Carlos Magalhães as contas das dívidas e das operações da empresa. Os números eram pavorosos. “Você só resolve essa situação se falar com o PC”, disse o ex-ministro. Brito recorreu a um velho amigo, José Luiz de Magalhães Lins, figura lendária em meio à elite carioca. Magalhães Lins nasceu em Arcos, em Minas Gerais, em 1929. Aos quinze anos, trabalhou como datilógrafo do Departamento de Fazenda de Minas no Rio de janeiro. Dois anos depois, entrou no Banco Nacional, fundado pouco antes por um seu parente rico, Magalhães Pinto. Organizado e eficiente, fez o banco crescer. Em 1960, chegou ao posto de diretor executivo, enquanto Magalhães Pinto se envolvia cada vez mais na política. Durante dez anos, Magalhães Lins comandou o Nacional. Era um inovador. Abriu as salas dos gerentes das agências aos clientes. Concedia financiamentos a pessoas físicas e pequenas indústrias. Criou uma imagem popular para a empresa, tendo como símbolo o guarda-chuva. Sob a administração dele, o Nacional multiplicou o seu capital e se tornou o segundo maior banco brasileiro. Em 1961, quando Jânio Quadros renunciou, Magalhães Lins participou do movimento pela legalidade e a posse de João Goulart. Jango chegou à presidência e ele o acompanhou em visitas aos donos de jornais cariocas. Depois, foi um dos coordenadores da campanha pela volta do presidencialismo, decidida num plebiscito. Jango convidou Magalhães Lins para uma comemoração no Palácio da Alvorada. O presidente disse ao banqueiro que lhe estavam pedindo para receber Jorge Serpa, mas ele não queria porque lhe haviam dito que o advogado era ligado à Mannesman e poderia ser um agente do imperialismo. Magalhães Lins falou a Jango que Serpa era um cearense sestroso; o presidente gostaria de conhecê-lo. Quinze dias depois, Magalhães Lins recebeu um telefonema de Jorge Serpa. Era meio-dia. O advogado contou que estava na Granja do Torto com o presidente João Goulart. Precisava que Magalhães Lins indicasse, até às três ho- …”
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“…ras da tarde, o nome de um empresário para chefiar o Ministério da Indústria e Comércio. Magalhães Lins folheou uma publicação sobre bancos e topou com o nome de um gaúcho, Egydio Michaelsen. Fez a indicação a Serpa. No dia seguinte, leu nos jornais que Michaelsen fora nomeado ministro. Magalhães Lins era também um mecenas. Sem os financiamentos que concedia, não teria existido o Cinema Novo. Amigo do dramaturgo Nelson Rodrigues, fez-lhe empréstimos, patrocinou uma de suas colunas de jornal e destacou dois seguranças do Nacional para acompanhá-lo, quando ele recebeu ameaças por escrever contra esquerdistas. Era amigo também de Carlos Lacerda. Foi ele quem organizou uma coleta entre empresários para ajudar Lacerda a criar a editora Nova Fronteira. Nos anos 70, os filhos de Magalhães Pinto forçaram o seu afastamento do Nacional. Com a saída dele, o banco deu início a um longo processo de decadência. Em 1974, Magalhães Lins presidiu a Light durante seis meses, e depois abriu uma empresa de consultoria e participações. Alto e magro, Magalhães Lins sempre vestia ternos pretos. Só bebia gim, com muito gelo, que um mordomo renovava com solícita regularidade. Fumava charutos que apagavam a cada cinco minutos e ele reacendia com fósforos longos. Só falava português e não viajava para o exterior. Estocava produtos de que gostava: dezenas de frascos iguais de perfume, dezenas de meias, de cintos e de sapatos do mesmo tipo. Não ia a festas, nem a jantares sociais. Dormia tarde, acordava cedo e lia muito, sobretudo jornais e revistas. Gostava de conversar com jornalistas, mas não dava entrevistas, nem posava para fotos. Era um desconhecido dos leitores de jornais e revistas. Mas foi um dos homens mais influentes na imprensa carioca: a mais discreta das eminências pardas, amigo de Roberto Marinho, Nascimento Brito e Chagas Freitas, dono de O Dia. Magalhães Lins indicou Alberto Dines para dirigir o Jornal do Brasil e Evandro Carlos de Andrade para comandar O Globo. Quando Chagas Freitas quis se desfazer de O Dia, ele arquitetou a venda do jornal. Ofereceu-o a Nascimento Brito e a Roberto Marinho. Não foi possível chegar a um acordo (o dono da Globo passou anos lamentando não ter feito o negócio), e Magalhães Lins conseguiu que Ary Carvalho comprasse O Dia.
Magalhães Lins falava todos os dias com Nascimento Brito. Fez o …”
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“… contato com Paulo César Farias e os três se encontraram na sua casa, uma das mais bonitas do Rio, na fronteira de Botafogo com o Humaitá. Nininha Nabuco, a mulher de Magalhães Lins, horrorizada com o aspecto e os modos de PC, pediu ao marido que não o convidasse mais. Os três passaram a almoçar, todos os meses, na casa de Nascimento Brito. O dono do JB e Magalhães Lins se entreolhavam discretamente quando Farias chegava, de calças largas e paletó comprido, aceitava um copo de gim, depois outro, e mais outro, até se soltar e contar suas aventuras. O tesoureiro de Collor lhes parecia façanhudo e tosco – tinha o charme de um aprendiz de grande malandro. As conversas envolviam negócios e inconfidências. PC dizia que falava com regularidade com Collor. Nascimento Brito não entendia por que o presidente insistia em dizer que não se encontrava com Farias. “Estou saindo daqui para ir a Brasília falar com o Fernando”, repetia-lhe o tesoureiro de Collor ao se despedir, já no meio da tarde. “Conheço o homem da mala”, dizia Brito na redação do JB, e deixava uma frase suspensa: “Esse PC…”.”
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“… Para Roberto Marinho, O Globo e a Rede Globo não eram extensões de sua vida: eram a sua própria vida. Herdara a publicação, é certo, mas tinha a consciência de que fora ele o responsável pela consolidação e projeção do jornal. Quanto à Rede Globo, quando a criou, pediu aos irmãos que entrassem no projeto. Eles não quiseram e Roberto Marinho a construiu com o próprio dinheiro. Associou-se ao grupo Time-Life, e Assis Chateaubrinad moveu uma intensa campanha contra o acordo com a empresa americana. Foi criada uma comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o assunto, e Roberto Marinho foi levado a depor no Congresso. A CPI considerou o negócio regular. A Globo deu prejuízo durante anos, ao longo dos quais o empresário comprou mais emissoras de televisão. Os americanos pararam de investir na empresa, e o jornalista recorreu a José Luiz de Magalhães Lins, do Banco Nacional, e a Walther Moreira Salles, do Unibanco, para conseguir empréstimos. Estava endividado quando rompeu com o grupo Time-Life, em 1969. Comprou a parte dos americanos na Globo por quase 4 milhões de dólares. Tomou a quantia emprestada do Citibank, com o aval do Banco do Estado da Guanabara. O BEG exigiu uma hipoteca de todos os bens de Roberto Marinho, da casa do Cosme Velho a suas empresas. Se a Rede Globo fracassasse, perderia tudo. Triunfou. …”