José Luiz de Magalhães Lins

Crônicas e Artigos

O Cruzeiro

José Amádio - 13 de outubro de 1962

Batuta & Orquestra

“… José Luiz de Magalhães Lins, cuja matéria prima é o dinheiro. Um pintor, pinta; um cantor, canta; José Luiz, dinheira. Trata-se de um precoce das finanças, possivelmente o banqueiro mais jovem do Brasil na sua posição: 33 anos, presidente de 2 bancos e diretor de outro (Sotto Mayor, Comercial de Minas Gerais S/A e Nacional de Minas Gerais). Sua batuta rege uma orquestra de 50 agências. Movimenta alguns bilhões por mês sob sua responsabilidade pessoal. E como movimenta!”

 

Feijão & Arroz

“Sempre bem passado e bem lavado, afável, sorriso certo na hora certa, José Luiz é tido como extremamente simpático. Está em moda na cidade. É Zé Luiz para cá, Zé Luiz prá lá. Talvez poucos saibam que é tímido e quase avesso à publicidade. Detesta aparecer em público. Creio que se o pagassem para discurso de improviso, teria um troço…

José Luiz é o homem que mais empresta dinheiro no Rio de Janeiro.”

 

Vela & Flama

José Luiz não tem a mentalidade retrógada de alguns banqueiros, nem medo de ser banqueiro. Até se orgulha de. Procura dar aos cifrões, sempre que possível, um sentido humano. Um sentido social. É claro que, sozinho, pouco poderá fazer. Mas despertou, e não está apegado apenas à sólida realidade das duplicatas, nem se emociona com a tocata dos redescontos. Entedia-o o mercantilismo absoluto. Está claro que empresta, aplica, transaciona, recebe juros, taxas e age no banco como qualquer profissional honesto. Mas isso não exclui outras metas inteligentes e lógicas. Digamos que está conseguindo acender uma vela no banco. E outra aos seus ideais.”

 

Trote & Galope

“… José Luiz é um jovem muito preocupado com a realidade brasileira e acha que se os jovens não se sacudirem, não tomarem posições imediatas, a coisa ficará preta. Mas acredita no Brasil. Sabe que, hoje, trotamos.

E que amanhã, galoparemos.

Divisão & Multiplicação

“…  Mas acredito que José Luiz tenha reservado para si mesmo uma “faixa de renovação” onde atua em termos de futuro. Percebe que o mundo evolui e não se conforma com a perigosa estagnação em que vivem as nossas elites. Acha (não por ser revolucionário, mas por ser objetivo) que deveríamos pagar mais impostos, desde que o governo redistribuísse e aplicasse com equidade suas receitas (coisa que não ocorre).”

 

Tela & Cinema

“Um dia resolveu financiar quadros e revolucionou o mercado da tela: luz verde para a inacessibilidade da classe média aos bons pintores. Financiou o Assalto ao Trem Pagador e o dinheiro já retornou ao banco. Agora está financiando um documentário sobre a vida de Mané Garrincha (a quem orienta, economicamente). Financiou o musical Minha Querida Lady e o dinheiro já retornou ao banco. Vai financiar um teatro para Tônia Carreiro. Pensa em financiar livros, escultura, sei lá. Arte também é bom negócio.”

 

Cara & Coragem

“Um banco se nutre substancialmente dos depósitos de seus clientes. Mas quantos dos pequenos depositantes têm acesso à carteira de crédito? Poucos, pouquíssimos. José Luiz sabe que isso está errado. E enquanto não vem a reforma bancária (existem 14 projetos transitando pelo Congresso) pretende instituir um sistema corajoso de crédito popular. Coisa pessoal, sem avalista. Vale o homem.”

 

Confiança & Calote

“… José Luiz gravita em torno de si mesmo. Vai emprestando sua gaitinha sem se preocupar, em muitos casos, com cadastros ou garantia. Talvez esteja inovando, mas como na prática o sistema funciona (pode contar nos dedos os calotes que levou), resta aos que combatem seu sistema o recurso de um chazinho de erva cidreira. O certo é que sobraçando suas cornucópias transbordantes (o BNMG é um dos maiores, senão o maior banco da Guanabara). E, usando a cabeça, José Luiz já pode ser considerado um dos poderosos desta república. E faz tudo na surdina, sem alardes nem clarinadas. …”

 

Barreira & Geografia

“Nasceu em 1929, na cidade de Arcos, claro que em Minas. Político e banqueiro só não nascem em Minas por equívoco geográfico. Filho de Edmundo Lins Júnior e Alice de Magalhães Lins, foi mudado para o Rio aos 3 anos: Engenho Novo, ao pé do morro. Era pobre. Em 1946, viu-se agente da barreira da antiga estrada Rio-Petrópolis. Depois, vendeu apólices da Cia. Internacional de Capitalização: chegou a chefe do grupo. Foi auxiliar do gabinete da Secretaria de Finanças em Belo Horizonte. Serviu 1 ano no Exército. Adolescência insípida. Nada de mais, nada de menos. Mas alguém deve ter rezado por ele.

E os anjos disseram amém.”

 

Hitler & Marx

“Para compensar estudos mais ou menos deficientes, José Luiz, que é caseiro, lê muito, desde a Bíblia e Montaigne à Conjuntura Econômica. Um de seus secretários faz-lhe resenhas das principais revistas do mundo (ganha tempo). Gasta meia hora diária discutindo com um professor de economia (para aperfeiçoar as teorias: prática tem de sobra). No momento, está lendo O Capital, de Marx, e A Minha Luta, de Hitler. Vejam só que dupla escolheu para pelejar em sua arena mental! Nos fins de semana, passa cinema em casa: dois, três filmes por dia (do mocinho ao documentário). Casa de campo? Não gosta. Whiskey? Não gosta. É homem de feijão, arroz e bife. Fuma muito. Vida noturna? Quase nada. Vida social? O mínimo. Era um casmurro interior e solteiro.

Está se aperfeiçoando.”

 

Nuvem & Sol

“Sua preocupação N° 1: a consciência. Só se sente ele mesmo quando está com a consciência tranquila. Assim é, e não me pergunte porque. Com a consciência tranquila tem aptidões de búfalo irritado. Se ela o alfineta, enfarrusca-se, nubla-se e trata logo de reparar o erro (mesmo que não o confesse) para que o sol torne a brilhar. Outro dispositivo de sua personalidade: força de vontade. Persegue seus objetivos como se fosse agente do FBI. Um negócio implacável. Metódico, científico. À noite, quando chega em casa, é um homem realizado.

Ou quase.”

 

David Nasser - 21 de março de 1964

“Para mim, que bebi na infância o leite de Minas Gerais como se estivesse mamando nas próprias tetas da liberdade. Minas Gerais é um estado de consciência. A teimosia de ser livre faz do mineiro um introvertido, embora o José Luiz de Magalhães Lins, um mineiro extrovertido, diga que é para economizar até as palavras”.