Página 24
“O Roberto Marinho usava uma expressão: dava toda uma boiada para não entrar numa briga e, se fosse necessário, botava mais boi. Ele não gostava de brigar.”
José Luiz de Magalhães Lins, banqueiro e amigo
Página 25
“Ele, além de muito inteligente, era esperto.”
José Luiz de Magalhães Lins
Página 29
“Ele era um homem que tinha dúvidas. Não tinha só certezas, não. Ele tinha dúvidas.”
José Luiz de Magalhães Lins
Página 30
“… aqui sofrendo para chegar na Galeria Cruzeiro. Felizmente este jovem está me acompanhando até o bonde. Não sei se chego em casa vivo.” Esta história Doutor Roberto se divertia em contar para amigo José Luiz de Magalhães Lins, vinte e cinco anos mais novo. Só que o Doutor Roberto não comprou o estilo cantilena do velho Peixoto.
“Roberto me falou: ‘Eu vou lhe dar um conselho: a humildade, se você não tem por virtude, precisa ter por esperteza. É preciso cultivar.’”
José Luiz de Magalhães Lins
Página 32
“Ele era um homem muito preocupado. Eu muitas vezes cheguei para almoçar, e ele: ‘Eu não dormi nada.’”
José Luiz de Magalhães Lins
Página 33
“Ele não era um homem de negócios. Era um homem de empresas. É a grande distinção.”
José Luiz de Magalhães Lins
Página 34
“Ele não tinha escrivaninha. Tinha para inglês ver. Ele trabalhou a vida toda dele que eu conheci no sofá. Sempre no sofá.”
José Luiz de Magalhães Lins
Página 37
“Ele era uma pessoa… que queria ser normal.”
José Luiz de Magalhães Lins
Página 201
“…
Jorge Bhering, dono da fábrica de chocolates, tinha contado, numa volta de carro pela avenida Presidente Vargas. Roberto liga, ato reflexo, para um amigo querido, sempre ultra bem informando, o banqueiro José Luiz de Magalhães Lins. Almoçavam juntos com freqüência e, em circunstâncias normais, ao atender à chamada, Zé Luiz tomaria, incontinente, o caminho da sala de Roberto:
“O Roberto me ligou: Você pode vir até aqui?’ ‘Hoje não posso. Eu estou envolvido aqui.’ A única vez que o Roberto Marinho foi ao meu escritório foi…”
Página 202
“ … nesse dia, 31 de março. Quando ele chegou lá, por acaso me telefonou o Castelo Branco. Eu estava importante pra burro. Atendi, falei o que tinha de falar e voltei para conversar com ele. Até aconselhei ele a se esconder. ‘Você se esconda aí porque ninguém sabe.’ O Rio estava sitiado. O Carlos Lacerda ficou cercado no Palácio da Guanabara. O Roberto então tomou os cuidados, que não sei quais foram, porque a sede do O Globo podia ser invadida.” [99]
Ninguém ousa prever o que pode acontecer nas próximas horas, durante a noite. Roberto manda Stella e os filhos deixarem o Cosme Velho. A mulher fica na casa de verão da família, no Alto da Boa Vista, e toma providências para cada filho pernoitar num lugar diferente, com parentes e amigos. Os golpistas esperam resistência, e o nome de Roberto Marinho sempre é citado quando se fala na notória lista dos condenados ao “paredão” de uma revolução comunista. O amigo José Luiz de Magalhães Lins, envolvido até o queixo na conspiração, passa a noite perambulando pelas calçadas da cidade, evitando a luz dos postes. Roberto resiste onde sempre resistiu: na redação de O Globo. Na manhã de 1º de abril de 1964, fuzileiros leais a Jango, comandados pelo almirante Cândido Aragão, ocupam a redação de O Globo impedem a circulação do jornal. Diante …”
[99] José Luiz de Magalhães Lins, 16 out 2003
Página 203
Veio aquele negócio que ninguém esperava. Eu só conheci o Costa e Silva depois de 31 de março. Eu que estava envolvido totalmente, porque Minas liderava o processo, nunca tinha conhecido de nome! Nem de nome! Eles assumiram e tomaram conta.” [101]
[101] José Luiz de Magalhães Lins, 16 out 2003
Página 219
“…
Durante o governo João Goulart, toda vez que Doutor Roberto precisava falar com o presidente da República, recorria a um de seus assessores mais próximos, Eugênio Caillard Ferreira: “Eu vi algumas vezes ele ligar: ‘Você pode me arranjar uma audiência com o presidente?. . . Uma meia-hora depois, o Caillard retornava: ‘O senhor venha aqui às quatro horas.’ Imediatamente conseguia.” [136] Eugênio figurou na primeira lista de prisões de abril de 1964. Pouco depois, chegava a notícia do suicídio de Eugênio Caillard, no quartel da Polícia do Exército. O que fez Doutor Roberto?
“Eu abro o Globo e, na primeira página, em baixo, no canto, uma fotografia.’Sepultado ontem o professor Eugênio Caillard Ferreira.’ A fotografia, com a legenda: ‘Nosso companheiro Roberto Marinho, na primeira alça à direita, levando o caixão para a sepultura.’ … Depois Roberto me disse: ‘Eu não podia faltar. Esse sujeito, você é testemunha, quando eu precisei falar com o João, ele imediatamente. Aquele pessoal, o resto, não me deixava nem entrar no Palácio, e o Eugênio me introduzia lá. Agora que ele morreu nas circunstâncias que nós sabemos, eu fiz questão de ir ao velório, ao sepultamento, levar o caixão e publicar.’ Tudo isso ele fez discretamente, mas publicou na primeira página do Globo!” [137]
[136] José Luiz de Magalhães Lins, 16 dez 2003
[137] Idem
Página 222
“…
Não conseguiram nem consolar um ao outro: “. . . estava cheio de gente lá no cemitério. Ele chegou e, em vez de abraçar Stella, encostou assim, uma coisa instantânea. Ela estava transtornada. . . “ [144] À dor somava-se o constrangimento. Stella entrou em profunda depressão:
“Foi um horror. Stella ficou doida um ano. Tomava remédio o tempo todo, foi terrível. Stella tinha prometido uma viagem aos filhos. Morre Paulinho, e ela não quis ir. Seis meses depois que ele morreu, ela faz a viagem. Resultado, ela quebrou, …”
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144 José Luiz de Magalhães Lins 16 dez 2003
Página 227
“…
Apesar da prática política sempre o ter fascinado, Roberto Marinho resistiu calmamente e nunca sucumbiu à tentação de ingressar no Legislativo ou Executivo. Jornalista, ponto. Empreendedor, dois pontos: João Roberto verbalizar hoje, e creio que Roberto Irineu e José Roberto concordam, que Doutor Roberto se envolvia demais, de maneira direta, com política e políticos – para além da influência inerente a um jornal. José Luiz de Magalhães Lins defende a atuação de Roberto Marinho, afirmando que não era ele que procurava os políticos, era procurado, e afinal, como concessionário de um serviço público, não poderia se negar ao dever do que chama “troca de idéias”.
…”
Página 234
“…
“Um dia, eu estou no banco e, por volta das cinco da tarde, me liga Roberto. ‘Eu preciso te ver hoje de qualquer maneira.’ ‘Então, eu dou uma passada aí quando eu sair daqui.’ ‘ Não, eu vou na sua casa. Prefiro ir na sua casa.’ ‘Não, eu vou na sua casa.’ ‘Não,eu vou na sua casa.’ Seis e pouco, sete horas, ele chegou. Ele, o Wallach – que está vivo – e o Walter Clark. Sentaram os três ali e o Roberto disse: ‘Olha aqui, eu estou numa situação em que corro risco de perder a TV e Cosme Velho’ – para você ver como o Cosme Velho era para ele. ‘Mas o quê?’ ‘ Amanhã, eu tenho o pagamento do Time-Life. Da prestação que eu tinha comprado. E se eu não pagar, eu perco as ações e a casa que está penhorada . . . ‘” [11]
“Nós estávamos perdendo dinheiro. Aí não pagamos INPS, não pagamos um monte de coisa, fornecedores, ficamos muito atrasados. Faturamos antes do fim do mês, descontamos nos bancos faturamento no fim do mês, descontamos antes no dia 15. A única que conseguimos pagar foi a folha. Aí chegou um momento muito ruim para nós. José Luiz de Magalhães Lins nos ajudou numa hora decisiva. Deu o dinheiro que realmente nos deu o maior alívio na época. E ele nunca pediu o repagamento até muito anos depois. Foi Zé Luiz que nos salvou.’ [12]
Em menos de doze horas, o amigo Zé Luiz de Magalhães Lins conseguiu levantar a dinheirama. Além de parceiro redentor numa das horas mais incertas, Zé Luiz foi o responsável pela indicação do nome que iria mudar a história do jornal O Globo.
…”
[11] José Luiz de Magalhães Lins, 16 dez 2003
Página 236
“…
José Luiz de Magalhães Lins fez a indicação, e da cara Roberto gostou de Evandro, carioca nascido e criado no Maracanã, na Grande Tijuca …
…
“O Evandro foi danado. Fez uma frase definitiva: ‘Doutor Roberto, eu sou papista. Papista. O que o papa fala, acabou’. Aquilo, para o Roberto, foi o que ele queria.” [19]
…”
[19] José Luiz de Magalhães Lins, 16 dez 2003
Página 263
“…
Segundo o amigo José Luiz de Magalhães Lins, a decisão de rodar aos domingos foi uma reação ao anúncio feito pelo dono do Jornal do Brasil, Manoel Francisco do Nascimento Brito, de que o jornal ia sair às segundas-feiras. Estamos falando de uma tradição: os domingos eram do JB, as segundas, do Globo.
“De repente, veio a notícia que o Jornal do Brasil ia sair às segundas-feiras. O Roberto me chamou. ‘Você é muito amigo do Brito.’ Ele até não chamava de Brito. Chamava de ‘Nascimento’. ‘Você é muito amigo do Nascimento. Precisa evitar isso, porque é mau negócio para ele e mau negócio para mim’. Eu e o Brito fomos à casa do Roberto, no Cosme Velho. Chegamos lá, com muita habilidade, com jeito, agradando muito ao Brito: ‘Nascimento, que idéia é essa de você sair às segundas-feiras? Você está tão bem dono do domingo, e eu estou bem dono da segunda-feira. Você entra na minha área, e eu vou ser obrigado a sair também. Eu não tenho como. E vou te atrapalhar. Vou fazer uma força muito grande, como você vai fazer’. E o Brito não atendeu.” [83]
… “
Página 335
“…
Provavelmente foi nessa época que disse ao amigo Zé Luiz de Magalhães Lins:
“‘Eu vou me ausentar aí…’ Falou assim en passant. Quando passaram-se uns dias, eu voltei e não tinha percebido nada. ‘Você está percebendo alguma coisa?’ Ele tinha ido ao Pitanguy e fez face.” [237]
… “
[237] José Luiz de Magalhães Lins, 16 dez 2003