José Luiz de Magalhães Lins

Trechos de Livros

Roberto Marinho – O Poder Está no Ar

Do Nascimento ao Jornal Nacional

Leonencio Nossa

Página 92

“… O banqueiro José Luiz de Magalhães Lins, figura que testemunhou como poucos os setores empresarial e político do Rio, não teve a impressão de que Getúlio faria uma política pendular. Ele relata ter escutado Israel Klabin contar que o pai, Wolff, foi chamado por Getúlio, que o orientou a procurar Oswaldo Aranha. Nessa conversa, Wolff teria ficado “surpreso” ao ouvir Oswaldo pedir 20% da empresa. Pedido que foi atendido.”

Página 206

“… Quem arranjou para o Walther ser embaixador em Washington foi o Samuel, relata o banqueiro José Luiz de Magalhães Lins.”

Página 272

“… Em depoimento, Rogério demonstrou desconforto com a pergunta sobre a decisão de Roberto criar a emissora. “É uma pergunta que eu não sei responder. Eu não tinha muito entusiasmo. Eu não tinha razão. Quem tinha razão era o outro lado”, afirmou, fazendo em seguida um longo silêncio. O banqueiro José Luiz de Magalhães Lins é implacável na descrição de Rogério; “Uma boa pessoa, mas não era do ramo.”

Página 288

“… Os projetos da entidade estudantil eram bancados por repasses do Orçamento da União, com contribuições e financiamentos que incluíam uma linha de crédito do Banco Nacional de Minas Gerais, dirigido por José Luiz de Magalhães Lins.”

Página 297

“Um jovem banqueiro se destacava no meio político e jornalístico do Rio de Janeiro.  José Luiz de Magalhães Lins, que administrava o Banco Nacional de Minas Gerais para o tio, o governador mineiro Magalhães Pinto, construiu um círculo de poder que incluía donos de jornais e repórteres influentes. Uma das mais discretas eminências pardas do país, na descrição do jornalista Mário Sérgio Conti, José Luiz financiou do movimento estudantil aos filmes do Cinema Novo, muitas vezes sem cobrar pagamento do empréstimo, de empresas a clubes. Foi empresário de Mané Garrincha e de gênios da literatura e das artes plásticas. É um homem com mania de perseguição. Costuma andar num carro, com outro atrás, para caso o veículo enguice ter uma opção rápida de fuga. João Roberto ficou impressionado quando testemunhou seu ritual de acender um cigarro. “Ele sempre anda com um maço de vinte cigarros e uma caixa com o mesmo número de palitos de fósforo. Queima um fósforo e apaga. Ele pega um cigarro do maço e joga fora para ficar cigarros e fósforos na quantidade igual.”

Página 298

“ O banqueiro é casado com Nininha, a moça que foi cortejada por Fidel Castro numa festa na mansão dos Mello Franco Nabuco no Alto Humaitá.

O casal vive numa residência decorada com obras de arte dos tempos da Colônia e do Império. O teto da sala de jantar é de uma capela do barroco mineiro, e a biblioteca é ampla.

Ele tem o hábito de arrancar folhas de trechos de livros que lhe interessam. Aos amigos, explica que é apenas uma forma de facilitar a leitura. Quando acha o livro importante, compra dois exemplares, deixando um intacto para sua biblioteca.

A caixa-d’água de sua casa é suficiente para atender a um clube. A memória de uma infância de privações em Arcos, cidade do interior mineiro onde nasceu, deixou em José Luiz preocupações com problemas de abastecimento. Ainda criança, acompanhou a família na mudança para o Engenho Novo, no Rio, onde seu pai conseguiu emprego de operário da Light. Embora pobre, a família tinha um vínculo com o poder: o avô paterno de José Luiz, Edmundo Lins, presidiu a Corte Suprema que, em 1936, rejeitou pedido para evitar a deportação de Olga Benário.

Na juventude, José Luiz vendia apólices de Assis Chateaubriand até se alistar e servir ao Exército. Aproximou-se do tio materno José de Magalhães Pinto, chefe do ramo rico do clã, e passou a representar o banco dele no Rio. Ele expandiu o Banco Nacional e mergulhou no projeto de tornar o Tio Juquinha presidente da República. Aprendeu com Magalhães Pinto a manter um estilo simples e austero de viver.

Em 1962, José Luiz iniciou a trajetória de articulador de movimentos políticos. O teste de fogo ocorreu no plebiscito para a escolha do sistema de governo, marcado para janeiro do ano seguinte. Aliado de João Goulart, o dono da Última Hora, Samuel Wainer, procurou José Luiz e lhe pediu que organizasse a campanha contra o parlamentarismo, para restabelecer o presidencialismo. O governo avaliava que poderia vencer, mas precisava do comparecimento maciço de eleitores para fortalecer a consulta. O diálogo abaixo é descrito pelo banqueiro:

 

         “Zé Luiz, sem dinheiro, não teremos comida para atrair eleitor.”

 

O banqueiro relata que Wainer sabia do interesse de Magalhães Pinto, pré-candidato ao Planalto, de restabelecer os poderes do presidente.”

Página 299

“Estou disposto a atender a circunstância”, respondeu José Luiz.

 “Tá bom. Então vou te levar ao palácio.”

Wainer e José Luiz foram ao Laranjeiras para encontro com Goulart. Desse encontro, o banqueiro relata o perfil de um presidente “doce” e “finíssimo”. “Eu fui gostando dele e ele de mim.”

José Luiz montou o comitê da campanha em salas alugadas no Hotel Aeroporto, próximo ao Santos Dumont. Escolheu como seu braço direito o jornalista Jânio de Freitas.

Certa noite, um táxi parou em frente à casa em que morava, no Leblon. Um homem tocou a campainha. Era Eugênio Caillard Ferreira, secretário de Goulart.

“O presidente mandou entregar essas duas malas para as despesas do plebiscito.

“Não posso aceitar, porque a minha condição foi não mexer em dinheiro”, respondeu José Luiz, temendo que uma eventual denúncia atingisse o Banco Nacional e Magalhães Pinto.

“Ah, José Luiz, pega isso aí, essas malas pesam toneladas.”

Pela manhã, José Luiz foi ao escritório de Antonio Balbino, consultor-geral da República, entregar as malas.

Ao mesmo tempo que articulou a captação de recursos no setor privado, José Luiz costurou um empréstimo do Banco do Brasil para garantir o apoio dos empresários da mídia. “Alguns eram da minha intimidade. Era o caso do Brito, do Jornal do Brasil, falava com ele todo dia. O Roberto, nem procurei para falar sobre isso. Ao Serpa, que era como se fosse o dono do Correio da Manhã, eu disse: “Como é que vai ser?”

Página 303

“…Na festa estavam o ministro da Justiça, Abelardo Jurema, Arminda e Antonio Gallotti, Nininha e José Luiz de Magalhães Lins…”

Página 307

“ Nas rodas de conversa, Darcy Ribeiro, que fora ministro da Educação e do Gabinete da Casa Civil de Goulart, acusava Serpa de colaborar com a CIA. Pelos documentos até aqui conhecidos, a embaixada americana não sabia para quem o advogado jogava. “O Darcy era completamente louco. De jeito nenhum, nem pensar”, reage o banqueiro José Luiz de Magalhães Lins…”

“… Ao pressentir a morte, Bittencourt marcou viagem sem volta para Paris e procurou um novo comandante para a redação do jornal. A Serpa e ao banqueiro José Luiz de Magalhães Lins, ele disse que não queria deixar o Correio entregue à “quadrilha” que lá estava, numa referência a um grupo de editores. José Luiz lhe apresentou Jânio de Freitas, seu assessor no Banco Nacional, por quem  “botava a mão no fogo”.

Página 309

“Naquele momento de crise, José Luiz e Wainer foram convidados para almoço no Palácio da Alvorada. Na residência, Goulart puxou o banqueiro pelo braço e, mancando devido a um antigo problema na perna, caminhou para os fundos da residência:

        “Zé Luiz, vamos lá para a piscina comer um churrasco.”

Após passarem por uma escultura erótica de bronze de Maria Martins, a artista associada ao Estado Novo que Niemeyer resgatou na arquitetura modernista de Brasília, o presidente perguntou qual era a impressão do banqueiro em relação a Jorge Serpa.

        “O senhor só vai lucrar.”

Dias depois, Serpa telefonou para o banqueiro da Granja do Torto, uma propriedade da presidência em Brasília, para pedir sugestão de um nome para a pasta de Indústria e Comércio. Surpreso pela rapidez com que Serpa “tomou conta do homem”, José Luiz folheou boletins bancários e chegou ao nome de Egídio Michaelsen, do Banco Agrícola Mercantil, do Rio Grande do Sul. Michaelsen foi nomeado ministro.”

Página 316

“Após atuar como tesoureiro do plebiscito que restabeleceu os poderes de João Goulart, o banqueiro José Luiz de Magalhães Lins traçou as linhas de um movimento para a deposição do presidente. Ele fazia a ligação entre o tio, o governador de Minas, Magalhaes Pinto, o governador da Guanabara, Carlos Lacerda, e o general Castelo Branco. O golpe contra Goulart, a UNE pós-getulismo e o cinema dos jovens Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos e Ruy Guerra eram forjados no mesmo plano elaborado pelo banqueiro e com os mesmos recursos da campanha de Magalhães Pinto ao Planalto…”

José Luiz minimiza a participação de Marinho no grupo em torno de Magalhães Pinto. “Nesse negócio de conspiração, ele não tinha nenhuma. Zero, absolutamente”, relata. “Ele e Magalhães Pinto se viam às vezes, eram pessoas amigas, nas não conviviam.”

“… A estrutura concreta do golpe foi gestada por Magalhaes Pinto, em Belo Horizonte, com seus secretários estaduais. No Rio, o seu representante era o sobrinho José Luiz de Magalhães Lins. O executivo do Banco Nacional trabalhava num prédio na esquina da avenida Rio…”

Página 317

“… Branco com a rua do Ouvidor. Era o ponto de encontro de homens que atuavam em silêncio, longe dos discursos do governador Carlos Lacerda ou das palavras de intolerância de articulistas e políticos na imprensa. O Palácio Guanabara ocupado por Lacerda, estava no mapa da conspiração, assim como os grandes jornais, as rádios e as emissoras de TV e as entidades empresariais. Magalhães Pinto buscou um nome influente nas Forças Armadas para consolidar o golpe. José Luiz e o tio governador foram à casa do General Eurico Gaspar Dutra, na época com oitenta anos, na rua Redentor, em Ipanema.”

Página 322

“Às duas da madrugada de 31 de março, o banqueiro José Luiz de Magalhães Lins estava em seu apartamento, no Leblon, quando recebeu um telefonema de Castelo Branco.

“O senhor pode dar um pulo aqui?”

Mourão filho decidira não esperar Magalhães Pinto e acabara de anunciar que, nas primeiras horas do dia, colocaria a tropa rumo ao Rio.

Em sua casa em Ipanema, Castelo fez um pedido a José Luiz:

“Isso é uma imprudência. O senhor telefona para o governador recuar.”

José Luiz telefonou para o tio.

“O Castelo mandou recuar.”

“Não há mais condições, já soltou tudo”, respondeu Magalhães Pinto.

“Por volta das dez da manhã daquele dia 31, Roberto Marinho telefonou para José Luiz, que estava no Banco Nacional, entre a avenida Rio Branco e a rua do Ouvidor. Começaram a circular no centro da cidade rumores de conflagração de um movimento em Minas.

Zé Luiz, eu preciso conversar com você para saber o que está acontecendo.”

Marinho e o gerente de circulação do Globo, Luiz Paulo Vasconcellos, estavam no escritório de José Luiz quando a secretária abriu a porta para dar um aviso ao banqueiro. Ela disse:

 “O general Castelo Branco está ao telefone.”

Marinho demonstrou surpresa e, dirigindo-se a José Luiz, comentou:

 “O Castelo telefonou para você…”

Página 325

“… No Rio, os conspiradores se reuniram no gabinete de Castelo Branco, chefe do Estado Maior do Exército, no Palácio Duque de Caxias, na Central do Brasil. Orlando Geisel, subordinado direto do general, pôs toda a “corriola” dele, nas palavras de José Luiz, para comparecer, fazer claque e garantir que o poder fosse entregue ao grupo.”

Página 326

“Durante o encontro, Costa e Silva teve uma discussão “brutal” com Carlos Lacerda e Juarez Távora e avisou que o comando revolucionário era dele. “Quando eu conto sobre o Costa e Silva tenho até de ser cuidadoso, porque as pessoas acham que é mentira. Ninguém sabia quem ele era. Ele assumiu o comando do ministério ali, no peito”, relata José Luiz de Magalhães Lins. O banqueiro conta que a reunião prosseguiu tensa…”

Página 332

“…O embarque de Juscelino para o exílio na Europa foi traumático. O jornalista Mário Martins e o empresário Adolpho Bloch procuraram Magalhães Pinto para negociar uma saída segura do ex-presidente. José Luiz de Magalhães Lins participou da operação. “Eles tinham medo do Juscelino se suicidar. Magalhães foi ao Eduardo Gomes que arrumou a aeronave”, relata o banqueiro. “O presidente estava humilhado, aquilo não se faz. Foi uma brutalidade. Ele ficou com dificuldade de dinheiro, mas disseram que ele tinha roubado.É aquela coisa: um horror.”

Página 336

“… Marinho carregou o caixão do ex-assessor de Jango pelas alamedas do cemitério São Francisco Xavier. O banqueiro José Luiz de Magalhães Lins relata:

 “Bem, a morte do Caillard pode ter sido tortura, porque ele tinha sido secretário particular do João Goulart. O que faz o Globo no dia? Primeira página, canto direito, embaixo: “Faleceu o professor Eugênio Caillard.” Fotografia do caixão sendo levado e o Roberto Marinho segurando a alça. “Nosso companheiro”, como ele usava a coisa, “acompanhou o cadáver até a sepultura”. Ele era agradecido a Caillard. Era preciso coragem para carregar um sujeito que deve ter morrido no porão. Se não fizesse nada, ninguém ficaria sabendo porque ninguém conhecia o Caillard. Tenho um depoimento do Roberto, das vezes que foi lá no palácio e o Caillard fazia tudo para ele. Empurrar o caixão, que coragem. Acho até que os meninos (filhos de Marinho) são capazes de não gostar disso, porque tem o negócio do Caillard e tal. Mas é importante até para a imagem do pai deles, isso é positivo.”

Página 368

“… Hélio e Marinho se encontraram também no tradicional hotel para um show de Ella Ftzgerald. Sentados em mesas próximas, Hélio, Roberto Marinho e figuras como José Luiz de Magalhaes Lins, João Dantas, Otávio Guinle e César de Mello Cunha ouviram a artista cantar “Lullaby of Birdland”.

Páginas 369/370

“… A briga de Roberto com Lacerda estava longe de um desfecho.

Foi a José Luiz de Magalhães Lins que Roberto Marinho recorreu para obter um empréstimo para comprar a Rádio Mundial de Alziro Zarur.

O empresário pretendia expandir o Sistema Globo de Rádio. Rogério quis vetar o negócio por falta de recursos. Roberto recorreu ao banqueiro, que garantiu o empréstimo com vinte meses para pagar. Marinho não pediu apenas dinheiro:

“Você poderia conversar com o Rogério? Ele acha que é mau negócio.”

Página 370

“… Em dimensões e estilo cenográficos, a mansão tinha vinte quartos. Anos depois, Glauber Rocha transformou a chácara na sede do governo imaginário de Alecrim, no filme Terra em Transe, financiado por José Luiz de Magalhães Lins.”

Página 425

“… Ao mesmo tempo que era acusado pela esposa de traição, Roberto construía a imagem de uma Stella que tinha outros relacionamentos. Esses supostos casos eram relatados em conversas com os amigos próximos. O banqueiro José Luiz de Magalhães Lins, por exemplo, lembra da “grande dama”, da “mulher extraordinária”, mas também do casamento “imperfeito” descrito pelo amigo.”

Página 441

“Bombardeado por denúncias de corrupção pelo Globo, Lacerda enfrentava dificuldades financeiras. Possuía um apartamento na Praia do Flamengo, uma dívida pessoal acima do valor do imóvel e as páginas da Tribuna da Imprensa, comandada pelo fiel aliado Hélio Fernandes. Estava longe do poder do microfone do rádio e da câmera da TV. Um amigo avisou ao banqueiro José Luiz de Magalhães Lins sobre a situação financeira do ex-governador. Um dos alvos da Tribuna, Magalhães Lins montou para Lacerda a Imobiliária Nova York, com carro e motorista. “Eu neutralizei o Lacerda em relação ao Banco Nacional, porque ele era nosso inimigo político. Ficou me devendo um favor enorme.”

“… Depois, Magalhães Lins reuniu empresários e outros banqueiros para ajudar Lacerda a montar a Nova Fronteira. O nome da editora foi ideia de Nininha, esposa de Magalhães Lins. Uma boa parte do dinheiro veio do banqueiro Antonio Carlos de Almeida Braga, o “Braguinha”. Era um tempo em que Lacerda vivia entre remédios para emagrecer, o vício em cocaína, diziam uns, e um silêncio em relação ao dono do Globo.

Marinho questionou o socorro dado ao seu adversário:

Zé Luiz, como é que você fez um negócio desses, devia deixá-lo quebrar, ficar na miséria.”

“Ah, Roberto, salvei minha pele. Tenho a impressão de que ele apagou.”

Página 453

“…Marinho deixou a divergência com o JB de lado e se encontrou, numa noite daquele mês de setembro, com Nascimento Brito para discutir a sucessão. O encontro em tom de sigilo ocorreu na casa do banqueiro José Luiz de Magalhães Lins…”

Página 460

“Alto do Humaitá. Sentado num sofá na sala de sua casa decorada com obras do barroco, José Luiz relata o dia em que se tornou para sempre um dos amigos mais próximos de Roberto Marinho. O banqueiro é um homem aristocrático até começar a falar. Ao iniciar a conversa, mostra a mineridade, com o riso maroto, a prosa calma, pronto para arrancar algo do interlocutor, sem pressa. Acende um charuto e, metódico, tira de uma pasta 26 fichas com registros datilografados de temas que não pode deixar de citar na conversa. A primeira ficha que lê apresenta uma recomendação de narrativa: “um bom livro precisa de música de fundo”. Devolve a ficha para a pasta. “Já li muito livro de histórias boas que não tem musicalidade. O seu vai ter?”

Uma outra ficha registra a capacidade de Roberto de “guardar segredo”. Outras apresentam nomes importantes na história do empresário, como Augusto Frederico Schmidt. “Você vai falar do Schmidt? É fundamental.” José Luiz anotou também numa ficha que deveria me “perguntar sobre entrevista c/ Serpa – como foi?”

Página 461

“…Em outro registro, dá outro conselho, que seria uma marca de Marinho: “Máximo 49% de racionalidade e mínimo de 51% de intuição”. Também cita uma característica adotada pelo empresário: “Humildade, algo de Roberto. Se não tem, deve ser cultivada.”

Agora, ele retira a ficha que estava em primeiro lugar na ordem inicial. O tópico cita o momento decisivo na sua relação de amizade com Marinho: “Empréstimo para RM/TV Globo. Nunca comentei com ninguém.”

Ele relata que sua amizade com Roberto ocorreu quando o empresário ficou “quebrado”. “Você não sabia disso, não?”, pergunta. José Luiz conta que Marinho telefonou numa tarde para pedir um encontro. Por volta das 18 horas, Marinho chegou à casa do banqueiro acompanhado de Walter Clark e Joe Wallach.

Na sala decorada com oratórios mineiros, o empresário disse:

        “Zé, estou na ameaça de perder a minha casa, que está hipotecada. Mas a casa vá lá, compro outra. O negócio é perder a Globo. Amanhã vence o meu débito com os americanos. Se eu não pagar até as duas horas da tarde, as ações passam para a Time-Life.”

        “Mas como é que faz um negócio desses?”

        “O Walther me ligou, à tarde: “Roberto, lamento sobre aquele negócio que tinha prometido. O banco está sem dinheiro.”

        “Isso aí no interior dá tiro. Não se faz com cachorro. Vou dar um jeito.”

        “Você não precisa consultar ninguém lá no banco, não?”

        “Não. Se consultar não vai ter adesão, porque o pessoal tem medo de coisa de imprensa. Você me manda amanhã cedo a promissória. Vou fazer um redesconto no Banco Central.”

 

O valor emprestado pelo Banco Nacional a Marinho foi da ordem de US$ 1 milhão, pela memória de José Luiz. Era o valor próximo da antiga dívida de Roberto com o City Bank. O banqueiro refuta a versão de que teria pedido autorização a Magalhães Pinto para conceder o empréstimo.

João Roberto Marinho relata ter ouvido do pai a versão de que o banqueiro, na conversa que salvou o empresário, disse ter comunicado a operação a Magalhães Pinto. “É a história que papai me contou. Eu amo o Zé Luiz, de paixão, porque tive muita convivência com ele…”

Página 462

“… e com todas as esquisitices dele, uma pessoa extraordinária, uma cabeça genial, mas eu sei que a versão dele, de que não chegou a levar o caso para o Magalhães, é difícil. O que papai contava é que o Zé Luiz disse: ‘Está bom, Roberto, vou ver com o Magalhães. Depois, ele telefonou de volta: ‘Amanhã está na sua conta.’ ”

José Luiz relata que Walther Moreira Salles tinha comprado o empréstimo do City Bank.

        “O Walther disse: ‘Se não fosse o Zé Luiz, a TV Globo era minha.’

“Na avaliação do ex-executivo do Banco Nacional, Moreira Salles poderia fazer o redesconto e ter o dinheiro. Zé Luiz também contou essa história para o jornalista Pedro Bial, que em 2005 lançou uma biografia de Roberto Marinho. A família pediu, no entanto, para que este relato não fosse publicado, evitando assim mal-estar com os Moreira Salles, com quem tem boas relações.”