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“A volta ao antigo regime favorecia Goulart, de olho na restauração de seus poderes, e os postulantes à sucessão, como Magalhães Pinto e Juscelino Kubitschek. Jango convidou o banqueiro José Luiz de Magalhães Lins, sobrinho de Magalhães Pinto, para coordenar a campanha. Mais do que coordenar o financiamento da campanha, ele organizou um verdadeiro programa de conquista da imprensa. De acordo com Juracy Magalhães, governador da Bahia pela UDN, “José Luiz, o homem que emprestava dinheiro pela cara do cliente, era uma espécie de personagem do momento, com imensa influência sobre artistas, intelectuais, jornalistas e empresários…”
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“…Diz o texto do informe que o consulado do Rio havia sido procurado pelo banqueiro José Luiz de Magalhães Lins, sobrinho do presidente do Senado, Magalhães Pinto, informando que o JB havia obtido um “baú” de documentos oficiais americanos que seriam comprometedores para ele e uma série de políticos e empresários brasileiros bem relacionados com as autoridades norte-americanas.
Magalhães Lins recebeu a informação do superintendente do Grupo JB e vice-presidente do Jornal do Brasil, Nascimento Brito, de quem era amigo. Nascimento Brito contou a ele sobre a remessa de documentos porque o nome de Magalhães Lins, e o de outros proeminentes brasileiros, aparecia em inúmeros textos como fonte de informações e o Jornal do Brasil ainda publicaria uma série de reportagens a respeito. Mas prometeu que manteria o nome do amigo fora do noticiário, se possível. A preocupação de Magalhães Lins era maior com seu tio, Magalhães Pinto, que aparecia nos documentos não só como um conspirador da derrubada de João Goulart. A CIA documentou, em mensagem datada de 26 de novembro de 1965, um encontro entre ele e o almirante Silvio Heck para discutir os planos de deposição do presidente Castello Branco. Duplamente conspirador no prazo de um ano.
Nas reportagens do JB, o nome de José Luiz de Magalhães Lins não aparece. Em 1995, quando o Banco Nacional, do qual havia sido acionista e diretor, quebrou, o mercado colocava o Jornal do Brasil entre um dos seus maiores devedores, com um passivo na casa dos 50 milhões de dólares em valores da época. Lins deixara o banco anos antes.
Escrito pelo embaixador em Brasília John Hugh Crimmins, um despacho de alerta da diplomacia americana analisava as temidas possíveis consequências da divulgação dos documentos:
Como Magalhães Lins não é familiarizado com nosso sistema, é difícil determinar, pela descrição feita em seu telefonema, se os documentos em questão são aerogramas, telegramas ou memorandos confidenciais ou são uma mistura dos três. Ele deixou claro que Nascimento Brito deu a ele uma cópia xérox de um tipo de documento, assinado por Philip Raine como encarregado, com a classificação de “apenas para uso oficial” inscrita no telegrama. Magalhães Lins está compreensivelmente preocupado a respeito dos prováveis constrangimentos a ele em razão da série de mensagens liberadas. É um contato frequente e próximo dos agentes políticos da embaixada americana. Ele apela para que a embaixada faça o que for possível para barrar qualquer outra liberação de documentos constrangedores.
Em seguida, o embaixador pediu socorro a Washington, requisitando com urgência detalhes que identificassem o período coberto, os personagens envolvidos e os nomes das fontes brasileiras citadas nos documentos. No final da noite, em outro despacho confidencial enviado às 21:55, Crimmins revelou novo contato por telefone com Magalhães Lins.
Garantiu que o Jornal do Brasil tem um “baú cheio” de documentos (telegramas, aerogramas e memorandos) datados de 1964 até pelo menos 1969 (ele comentou que havia alguns exageros nas acusações narradas por Nascimento Brito). Magalhães Lins não tem ideia de onde ou como o Jornal do Brasil obteve estes documentos. Observou que o jornal tem contatos com The New York Times. Ele expressou preocupação sobre a possibilidade de esses documentos serem publicados, incluindo nomes de numerosos brasileiros que foram fontes da embaixada durante estes anos e que estão em posição pública importante agora.
No final de seu despacho, Crimmins disse que Magalhaes Lins repassara à embaixada cópia de um telegrama confidencial da embaixada no Brasil para os Estados Unidos de 8 de fevereiro de 1967, que tinha como tema a escolha dos ministros de Costa e Silva. Ao que tudo indicava, o documento vinha do Conselho de Segurança Nacional e era de uso oficial limitado. A mensagem relatava que Magalhães Pinto tinha sido sondado pelo presidente Costa e Silva para ministro das Relações Exteriores, que Delfim Neto tinha aceitado ser ministro da Fazenda e que Carlos Chagas, “um confidente de Costa e Silva e chefe da Sucursal de Brasília do jornal O Estado de São Paulo”, informava que o ministério inteiro seria conhecido em dez dias.
Crimmins encerrou sua mensagem a Washington afirmando que Magalhães Lins se esforçava para impedir a publicação – “ao menos dos documentos mais sensíveis” – por meio de contatos de “alto nível” com os serviços de segurança. O embaixador assegurava que os americanos não tinham nenhum papel nessas tratativas e informava que os documentos seriam publicados no final de semana.”
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“Segundo Delfim, Serra era o nome mais cotado para o Planejamento, Tancredo mostra-se bastante insatisfeito com a escolha de José Serra, já tendo, inclusive, afirmado que não entregará nenhum ministério da área econômica às esquerdas. Dornelles disse que a indicação de Serra tem ocasionado uma infinidade de reclamações, como a do jornalista Roberto Marinho, do secretário [do governo Franco Montoro, SP] Roberto Gusmão e do banqueiro José Luiz de Magalhães Lins, entre outros.”
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“Uma das características de Tancredo era usar terceiros para testar ideias, nomes e propostas antes de assumi-las. Se o “convite” fora feito por Dornelles, Tancredo recorreu ao banqueiro José Luiz de Magalhães Lins para que conversasse com Olavo Setúbal sobre suas funções no governo e o “desconvite” para a Fazenda. Tancredo mantinha-se enigmático. “Espero ter você por perto”, dizia. Incumbiu Magalhães Lins de missão que poderia ser desagradável.
Na definição do advogado Jorge Serpa. “Magalhães Lins é o ausente mais presente do Brasil”. Nascido em 1929 em Arcos, em Minas Gerais, sobrinho de Magalhães Pinto, José Luiz começou a trabalhar no Banco Nacional em 1948 como escriturário. Foi datilógrafo e auxiliar de contabilidade antes de chegar à cúpula do banco, do qual foi diretor executivo e vice-presidente. Mandou no banco por dez anos. Criou uma imagem popular para o Nacional, tendo como símbolo publicitário um singelo guarda-chuva. Mantém a fama de recluso. Ele cruza com a história do país com a discrição dos convidados com acesso à casa da rua Icatu, no Humaitá, na zona sul do Rio.
Magalhães Lins financiou artistas como Glauber Rocha e Vinicius de Moraes e concedeu empréstimos a jornalistas como Carlos Castello Branco e Ibrahim Sued entre dezenas de outros. Caso raro de eminência parda que, em vez de ser informado pela CIA, deu informações a ela, foi Lins quem avisou o governo dos Estados Unidos que o jornalista Marcos Sá Corrêa publicaria reportagem em que comprovava o apoio americano ao golpe de 1964. Articulou ações tão diversas como arrecadar fundos para a campanha que reinstaurou o presidencialismo em 1963 ou conseguir que o Banco Nacional liberasse – de um dia para o outro – empréstimo de 5 milhões de dólares para que a TV Globo rompesse contrato com o grupo Time-Life e escapasse de uma armadilha bancária. No caso da campanha presidencialista, Darcy Ribeiro, braço direito de João Goulart, declarou: “José Luiz foi o melhor, o mais competente e o mais honesto tesoureiro de campanha que jamais vi”. No caso da Globo, o empresário João Roberto Marinho reconheceu que seu pai poderia ter perdido o controle da emissora se não fosse o empréstimo de última hora que Magalhães Lins bancou.
Sem o empréstimo, Roberto Marinho perderia as ações da TV para a Time-Life e seus bens pessoais. Marinho havia colocado 100% dos bens como garantia da compra do prédio da Globo, que pertencia aos americanos. Marinho obteve o dinheiro. Magalhães Lins não revelou o banco que deixou de atender à família Marinho na última hora. Atribuiu a seu proprietário um lamento: “Se não fosse o José Luiz, a TV Globo seria minha”.
Habilidoso com temas e personagens difíceis, Magalhães Lins convidou Olavo Setubal à sua casa. Tinha duas notícias a dar: a boa era que seria ministro. A má era que não ocuparia pasta da Fazenda nem do Planejamento. Seria ministro das Relações Exteriores. Setubal recebeu as notícias com a frieza de quem lê balanços patrimoniais. Após a conversa, Magalhães Lins acompanhou Setubal até a porta. Ao despedir-se, Setubal avisou que provavelmente seria a última vez que se encontrariam. Paulistano, não via motivos no horizonte para que voltasse ao Rio de Janeiro em agenda pessoal. Assim não o fez pelos vinte anos que se seguiram.”