José Luiz de Magalhães Lins

Trechos de Livros

Todo Aquele Imenso Mar de Liberdade

A dura vida do jornalista Carlos Castello Branco

Carlos Marchi

Página 139

“…E em 1956 tiveram de fazer um financiamento para comprar um apartamento em construção à rua General Venâncio Flores, quase esquina de Dias Ferreira, no Leblon. O financiamento seguiu a mesma trilha amiga que abrigava quase todos os principais jornalistas do Rio – e alguns de Belo Horizonte e outros de São Paulo – , um empréstimo do Banco Nacional , obtido após um telefonema de José Aparecido de Oliveira para o vice-presidente (na prática, principal dirigente, pois o presidente era seu tio Magalhães Pinto, que preferia atuar na política) do banco, José Luiz de Magalhães Lins.”

 

“…Funcionava com extrema leveza: o pretendente afogado em dívidas rogava a José Aparecido, que ligava para José Luiz, que recebia o interessado em sua enorme e asséptica mesa de tampo de vidro, pilotando apenas uma caneta e um bloco de papel; numa folha anotava os dados principais, arrancava a folha rubricada, entregava-a ao pretendente e o mandava entregar a um gerente para concluir a operação de empréstimo.”

 

“O Banco Nacional de José Luiz não fazia isso apenas com jornalistas importantes. No começo da década de 1960, quando devotava simpatia ao então presidente João Goulart, José Luiz expandira os interesses do banco a territórios inimaginados – chegou a emprestar dinheiro à União Nacional dos Estudantes (UNE), então sufocada por receitas atrasadas. Quando assumiu a Presidência da UNE, em julho de 1963, José Serra encontrou um quadro financeiro desanimador; seguiu, então, o conselho de seu antecessor na entidade, Vinícius Caldeira Brandt, que lhe explicara ser possível pegar empréstimos no Nacional dando como garantia os recursos orçamentários.”

Página 140

“… Vinícius levou-o para apresentar a José Luiz; na audiência, os dois jovens (Vinícius com 22 anos e serra com 21) tiveram de esperar para serem atendidos, enquanto ouviam José Luiz manter conversas desenvoltas ao telefone. ‘Eu me surpreendia ao vê-lo falar ao telefone, passando notas, considerações e sugestões de temas a repórteres políticos de jornais e revistas. O mais notável deles era Carlos Castello Branco, leitura obrigatória da diretoria da UNBE. José Luiz dava uma informação, recebia outra de volta, fazia um suave juízo de valor a respeito, indagava sobre um assunto que o interessava. Era fascinanre observar como um articulador de elite, na direção de um banco, fazia política pelos jornais.’

 

 

A influência de José Luiz, no entanto, ia muito mais longe do que conceder simples empréstimos a importantes jornalistas endividados. Por um lado, ele espraiava seu poder indicando ou aprovando nomes para chefias estratégicas do JB e de outros meios da imprensa brasileira – e esta devia ser uma das principais razões pelas quais os jornalistas políticos o ouviam com tanto interesse.  Em 1962, por exemplo, aprovou o nome de Alberto Dines para ser diretor de redação do JB; menos de dez anos depois indicou o nome de Evandro Carlos de Andrade para o mesmo cargo em O Globo. Quando Chagas Freitas quis repassar O Dia, foi ele quem tentou vender o jornal, primeiro a Roberto Marinho, depois a Nascimento Brito, que recusaram, e, por fim, ao jornalista Ary de Carvalho, que arrematou o jornal.

 

Por outro lado, manuseava sua intimidade com os integrantes da “carteira de clientes especiais” para repassar informações que viravam notas de jornal no dia seguinte. Todos os dias, sem exceção, ele falava com os jornalistas mais influentes do país e em cada coluna ou artigo plantava notas que lhe interessavam. E não só plantava, mas também, na longa conversa que alimentavam recebia deles informações vitais para compreender cenários e complementar estratégias…”

Página 211

“…Um setor ponderável da UDN pavimentava o caminho de um acordo com Jango e via a Tribuna de Lacerda como um impasse a contornar. Era imprescindível neutralizar a trincheira de onde ele e seu grupo disparavam todos os dias contra o governo. O sobrinho de Magalhães Pinto, José Luiz de Magalhães Lins, executivo do Banco Nacional, montou a operação que abriu os cofres do banco para fazer o empréstimo – que nunca seria pago – de 10 milhões de dólares com que Brito comprou a Tribuna para calar a voz estridente de Lacerda.”

 

 

 

 (Esclarecimento de José Luiz de Magalhães Lins: o empréstimo mencionado acima jamais ocorreu.)

Página 212

“…Mas a nova fase da Tribuna não deu muito certo: a primeira edição saiu com 24 horas de atraso, já chegando velha às bancas… Pouco tempo depois, o jornalista Hélio Fernandes recebeu um convite para almoçar com o advogado Miguel Lins, tio de José Luiz de Magalhães Lins. No almoço, Miguel perguntou-lhe se aceitaria comprar a Tribuna; Hélio se surpreendeu e disse que não tinha dinheiro para tal aventura…”

Página 213

“Mas a operação de venda da Tribuna tivera um importante bastidor político. Quando Jânio renunciou e a posse de Jango foi colocada em xeque por Lacerda e pelos militares conservadores, um empresário destacou-se na defesa da legalidade e da posse de Jango – José Luiz de Magalhães Lins , vice-presidente do Banco Nacional e sobrinho de Magalhães Pinto…”

 

 

“…Quando Jango foi empossado, José Luiz acompanhou o presidente em visita a vários jornais cariocas, cujos donos eram seus amigos. Ganhou de tal forma a confiança de Jango que chegou a indicar pelo menos um ministro – o gaúcho Egydio Michaelsen, para o Ministério da Indústria e Comércio. Entre os dois estabeleceu-se um clima de confiança e intimidade. Foi nesse momento que foi arquitetada a compra da Tribuna, removendo o quisto udenista radical que perturbava aquela aliança heterodoxa. O planejamento da compra foi comandado por José Luiz e seu tio Miguel Lins.”

 

 

“Em fins de 1962, foi iniciada a campanha para o plebiscito, marcado para 6 de janeiro de 1963, no qual o eleitorado escolheria entre o parlamentarismo (que havia sido imposto a Jango) e o presidencialismo (que ele queria ressuscitar para governar com plenos poderes). O tesoureiro da campanha a favor do presidencialismo foi José Luiz de Magalhães Lins, que teve uma performance magnífica, arranjando dinheiro com empresários para fazer uma campanha tão convincente e rica que, ao final, foi elogiado por Darcy Ribeiro, chefe da Casa Civil de Jango, que dele disse ter sido o melhor chefe de campanha que já vira na vida…,”

Página 214

“…Magalhães percebeu os primeiros sinais logo após o plebiscito e logo entendeu que Jango não precisava mais da aliança. Silenciosamente, retirou-se para os arraiais da UDN e levou consigo seu fiel timoneiro José Luiz. Da mesma forma que retirara a Tribuna de Lacerda, José Luiz operou para devolvê-la, agora que Jango virara adversário.”

Página 215

José Luiz voltou a cultivar sua amizade com Lacerda e a manteve acesa até mesmo quando ele caiu em desgraça com o regime militar; angariou recursos com grandes empresários para que Lacerda criasse a Editora Nova Fronteira. Na década de 1970, os filhos de Magalhães Pinto forçaram sua saída da direção do Banco Nacional, que logo depois entraria em decadência. Mesmo após sua saída do banco continuou falando com os jornalistas mais importantes do país todos os dias. Com Castelinho, por exemplo, a amizade perdurou até a morte do jornalista.”

Página 268

“… Enquanto Castelinho estava preso, um dos amigos que mais se mexeu para libertá-lo foi José Luiz de Magalhães Lins, bem mais que Nascimento Brito..”

Página 298

“…Acabou sendo levado para o Hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo. Era mesmo um mal cardíaco, mas o hospital não quis iniciar o atendimento sem que Castelinho – cujo plano de saúde não fora aceito – desse um cheque-caução num valor de que ele não dispunha no banco. Esperou padecendo as dores até encontrar um amigo que pudesse ajudá-lo naquele impasse financeiro; finalmente encontrou José Luiz de Magalhães Lins, que lhe mandou imediatamente um cheque pessoal em branco. Só então o atendimento começou.”

Página 302

“Em meados de 1973, o advogado Miguel Lins, tio de José Luiz, fez várias reuniões em sua mansão de estilo normando à avenida Visconde de Albuquerque, no Leblon, para pactuar uma cobertura tática do JB para apoiar a candidatura de Leitão de Abreu à sucessão de Garrastazu Médici. A idéia era patrocinar a indicação de um civil para caracterizar o encerramento do ciclo militar, mas mantendo os padrões de conservadorismo confiável aos setores mais conservadores”

Página 304

“…Brito qualificara a cobertura como pró-Israel e, sem avisar Dines, enviara o repórter Juarez Bahia para percorrer os países árabes e produzir um farto material favorável aos árabes – com o objetivo de mostrar como o JN estava sintonizado com o futuro presidente. Dias depois, a secretária de José Luiz de Magalhães Lins, Cinésia, ex-mulher de Octávio Bonfim, o primeiro chefe de reportagem de Castelinho, em Minas, contou a Dines o que ouvira do chefe da segurança do JB, que acompanhara Brito numa visita ao Banco Nacional”

Página 453

“…Castelinho não aceitou a provocação. Respondeu num tom bem mais cordial e com muito afeto, desdenhado o abusado e irônico tratamento inicial.  Contou que fora ao Rio para um jantar oferecido por José Aparecido de Oliveira a Severo Gomes, mas o jantar fora canceladfo sem que ele fosse avisado. No Rio, sem agenda, ligou para Otto e não conseguiu falar; terminou indo jantar no Antiquarius com Roberto Médici e o filho Pedro. No fim de semana presumiu que Otto estivesse em Petrópolis e foi encontrar José Luiz de Magalhães Lins