José Luiz de Magalhães Lins

Vida Profissional

Tribunal de Contas

O Globo 14.5.80
 

O GLOBO 14.5.80

Magalhães Lins aprovado para o Tribunal de Contas
Um homem que começou a vida nas mais humildes posições – foi vendedor de títulos de capitalização e fiscal de barreira na estrada Rio-Petrópolis – e se transformou num dos nomes mais respeitados dos meios bancários nacionais, vai iniciar nova etapa em sua vida pública. Por expressiva maioria, a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro aprovou ontem a indicação de José Luiz de Magalhães Lins para conselheiro do Tribunal de Contas do Estado.

Ele deixará a presidência do Banco do Estado, onde estava desde o início do Governo Chagas Freitas. Tendo aceitado o cargo com o compromisso de exercê-lo até que o Banerj atingisse sólida situação. Magalhães Lins considerou sua missão concluída com pouco mais de um ano de mandato: nesse período, as operações dobraram de volume – só os depósitos à vista aumentaram em 130% – sem que para isto fosse necessário aumentar o quadro de funcionários (que, na verdade, foi reduzido sem perda de eficiência).

 

Na assembléia

Em sessão secreta conjunta, as comissões de Normas Internas e de Constituição e Justiça aprovaram ontem à tarde a indicação de Magalhães Lins para a vaga do conselheiro José Fontes Romero, que se aposentou.

Logo em seguida, também em sessão secreta, o plenário aprovou a mensagem do governador Chagas Freitas.

 

Carreira

No tribunal de Contas, Magalhães Lins seguirá os passos de seu tio, o escritor Ivan Lins, que durante muitos anos foi ministro do Tribunal de Contas.

O novo conselheiro leva para o cargo a experiência de uma carreira de 36 anos, que iniciou quase menino (tem hoje 51 anos) vendendo títulos de capitalização.

 

Inovador

Tendo ingressado no Banco Nacional de Minas Gerais como escriturário, Magalhães Lins foi ocupando todos os postos da carreira até gerente e, depois, assessor da Diretoria. Em pouco tempo, começou a distinguir-se no banco, do qual se tornou diretor e grande acionista.

Como banqueiro, ele se destacou por uma série de iniciativas inovadoras, principalmente no incentivo às atividades artísticas e culturais. Foi assim que, entre outras medidas, estimulou o cinema nacional, concedendo financiamentos a vários filmes e, ainda, a editoras de livros. Sócio de José de Carvalho na “Petite Galerie”, adotou o sistema de vendas a prazo, revolucionando o mercado de artes plásticas. Embora arredio à publicidade, tornou-se extremamente conhecido, já que sua presença estava em toda parte, até no futebol, como conselheiro de Garrincha, além de financiar um filme sobre a vida do ex-jogador. Também diretor da Companhia Atlântica de Seguros, fundou a Nacional de Seguros. Eleito presidente da Light em 1974, desligou-se da empresa seis meses depois, para, em 1975 assumir a presidência do Banerj.

Casado com Maria do Carmo Nabuco de Magalhães Lins, tem quatro filhos: Ana Cecília, Maria Cristiana, José Antônio e José Luiz.

Relatório Anual de Atividades - 1999 (Exercício de 1998)

Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro

 

RELATÓRIO DE ATIVIDADES
EXERCÍCIO DE 1998

Rio de Janeiro
Março de 1999

Mensagem do Presidente

“…Também procuramos dotar o ISE de ampla infraestrutura, recuperando e modernizando internamente o prédio que foi sede do antigo Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, na Av. Jansen de Mello, em Niterói, batizado de Palácio Conselheiro Reynaldo Sant’Anna, e que passou a abrigar a Biblioteca Conselheiro Humberto Braga, o Centro de Estudos e Pesquisas Conselheiro José Luiz de Magalhães Lins, o Espaço Cultural Conselheiro Paschoal Cittadino, a sede do ISE e a gráfica.”

“…Não poderia terminar sem manifestar o meu apreço a todos os servidores deste Tribunal, pela dedicação e espírito público demonstrados, que foram imprescindíveis ao cumprimento de todas as metas planejadas e, em especial, aos Conselheiros Dr. José Luiz de Magalhães Lins, Dr. Sergio F. Quintella, Dr. José Gomes Graciosa, Dr. Marco Antonio Barbosa de Alencar, Dr. José Leite Nader e Dr. José Maurício de Lima Nolasco, pelo apoio às realizações que tivemos no ano e pela confiança depositada na minha reeleição como Presidente e na do Dr. José Gomes Graciosa como Vice-Presidente desta Casa para o biênio 1999/2000.”

Conselheiro Aluisio Gama de Souza

Presidente

Veja 21.5.80

O BICHO DO MATO

Zé Luiz deixa Banerj pelas contas do Tribunal.

Pode ser que uma cadeira de conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, pacata e vitalícia, lhe pareça mais confortável, mas, sem dúvida esta foi a primeira semana da vida do banqueiro José Luiz de Magalhães Lins em que ele saiu do mais para o menos. Era presidente do poderoso Banco do Estado do Rio de Janeiro (Banerj) e foi para o tribunal de plenário composto por luminares munícipes ou políticos sem voto, Magalhães Lins, ou “Zé Luiz“, como é conhecido desde o fim dos anos 50, quando revolucionou a ideologia dos cadastros bancários emprestando dinheiro a intelectuais e jornalistas que o procuravam no Banco Nacional, é, há muito tempo, uma das figuras mais poderosas da comunidade financeira e política do Rio e, ao mesmo tempo, uma das mais discretas.

Aos 51 anos, depois de ser o mais importante diretor do Nacional, onde começou como funcionário humilde e sobrinho do dono, José de Magalhães Pinto, ele criou seu próprio banco, presidiu a Light e, repentinamente, saiu dos bastidores da política indo para o Banerj no início do governo do seu amigo Chagas Freitas. Magro, com o cabelo cortado rente, ele nunca é visto em festas, apesar de ser casado com uma das mulheres mais elegantes do Rio, Maria do Carmo née Nabuco, para quem Manuel Bandeira fez um verso. Raramente sai de casa da zona sul cercada pela frente por policiais humanos e pelos fundos por mastins famintos. Quando sai, começa a exibir sua excêntrica simplicidade. Só usa terno preto com gravata preta e camisa branca. Só bebe gim Tanckeray, de preferência da garrafinha que carrega as festas, prevenindo-se contra bebidas estranhas.

Esse personagem, que mistura a discrição das famílias mineiras à astúcia da política pesada, é acima de tudo um precavido. Perfuma-se com colônia Givechy e, como a Maison Givenchy pode quebrar, tem centenas de garrafas em casa. Estava em Paris em maio de 1968 e como sempre levava um amigo que o ajudasse a sair do cerco idiomático em que o uso exclusivo do português o atirou. Tinha o escritor Otto Lara Resende no mesmo hotel quando, depois de ver os distúrbios universitários que começavam, chamou-o: “Amanhã vamos cedo encher o tanque”. “Por quê?”, perguntava Otto. “Porque vai faltar gasolina”. De fato, pouco depois de terem enchido o tanque, fecharam os postos. No dia seguinte, Zé Luiz percebeu que era a hora de sacar todo o dinheiro do banco. Sacou de manhã e os bancos fecharam à tarde. Depois, com algumas dezenas de milhares de dólares nos bolsos, teve um dos maiores medos de sua vida quando, no meio de um espetáculo do Lido, apareceu um mágico capaz de fazer sair objetos das roupas da platéia.

Até o dia 1º de abril de 1964, ele viveu cercado por alguma publicidade. Era o protetor do jogador Garrincha e uma espécie de mecenas do cinema novo, ao mesmo tempo colaborava na organização da campanha do plebiscito que daria poderes presidenciais a João Goulart. Para tirar esses poderes porém há testemunhos de que, sem sair do Rio, nas horas que antecederam à Revolução, seu carro rodou por centenas de quilômetros. Vitorioso, recolheu-se e dedicou-se sobretudo a construir uma reputação de indiscutível competência. Esquecida a fase em que o chamavam de “banqueiro do povo”, tornou-se um discretíssimo articulador. Por sua casa, na qual guardava uma das melhores coleções de pintura e arte sacra brasileiras, estiveram centenas de políticos e dezenas de generais, entre os quais o próprio João Baptista Figueiredo, tudo sem uma só linha dos jornais.

“Eu não passo de um bicho do mato”, costuma repetir, orgulhando-se de jamais ter dito algo além disso para que se publicasse. Só esta semana ele concedeu novas frases. Disse que foi atraído para o cinema novo por Otto Lara Resende e explicou seu interesse pela função de conselheiro do Tribunal de Contas: “Vou ter mais tempo para ler e o trabalho não é muito diferente do que fiz até agora, pois não deixa de ter uma função ligada à economia”.

Na realidade, em comum com o Banerj, só há a palavra contas. Num, são as contas dos gastos. No outro, as contas depósitos. De fato, em menos de dois anos, ele aumentou em 130% as contas voluntárias do Banerj. Por ágil, o banco está na zona de risco em suas relações com a política oficial, pois em quatro meses ele expandiu os empréstimos em 35%, quando o ministro Delfim Netto quer que o limite para o ano seja 45%.

Ao contrário do que se supôs, porém, Magalhães Lins não teve divergências com Delfim e sua saída está mais relacionada à queda do empresário Israel Klabin da Prefeitura do Rio e à sua recolocação no Banerj. Além disso, especular uma eventual derrota de Magalhães Lins seria exagero. Arquimilionário, não precisa do salário. Bem relacionado, não precisa de título. Quem sabe, se um dia as eleições voltarem a ser indiretas e seu amigo Chagas Freitas precisar de um nome para sua sucessão, o país tenha chegado a uma situação em que ele seja candidato com os amigos ideais aos quais chama, sempre de “meu querido”.