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ANOS DE INTOLERÂNCIA I
“Graças a José Luiz de Magalhães Lins, diretor do Banco Nacional , do qual Magalhães Pinto era dono, entrei para o Jornal do Brasil no começo de 1962. Relacionadíssimo, Zé Luís tinha grande prestígio entre jornalistas, intelectuais e artistas, que viviam batendo à sua porta em busca de financiamento para alguma atividade cultural ou simplesmente levantar um papagaio. Preocupado com a minha situação, ele conversou com Nascimento Brito…
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“…Pouco depois, telefonou-me, explicando que o Alkmim, por alguma razão que ele desconhecia, não tinha embarcado.
– Faça o seguinte: procure o Zé Luís, no Banco Nacional. Vou passar todas as instruções para ele. Pelo esquema do banco, tenho como tratar o assunto com segurança.
Fui então ao Banco Nacional, onde Zé Luís de Magalhães Lins disse-me que Magalhães conversara com o Brigadeiro Eduardo Gomes, que, por sua vez, resolvera tudo com a cúpula militar.
– O presidente Juscelino pode embarcar hoje à noite para o exterior com a família. Mas tudo deve ser feito discretamente e com rapidez, para que a linha dura não tenha tempo de agir – completou.”
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“Saí do banco e fui ao escritório de Baldomero Barbará genro do Juscelino. Ele estava arrasado.
– Doutor Mário, o presidente vai se suicidar. Ele disse que não se entrega, vai reagir e se mata.
– Sei disso. Estive ontem com ele. Mas tenho notícias melhores.
Relatei-lhe minha conversa com Zé Luís: ele seria procurado ainda naquela tarde por um oficial da Aeronáutica, a mando do Brigadeiro, que lhe passaria todos os detalhes.
Em seguida, fui para a casa de Juscelino, que continuava muito abatido.
– Presidente, mande fazer as malas. O senhor embarca hoje para o exterior.
À noite, acompanhamos JK e dona Sarah na partida para o exílio. O carro com o presidente foi na frente. Eu, Adolpho e um farmacêutico amigo do Juscelino, dono da farmácia Dia e Noite, em Copacabana, seguimos atrás. Quando chegamos ao Galeão, o aeroporto estava em pé de guerra, tomado por tropas embaladas da Aeronáutica. De acordo com o combinado, o carro com Juscelino entrou direto por um portão que dava acesso à pista e estacionou ao lado do avião. O presidente e dona Sarah saltaram do automóvel, subiram as escadas da aeronave e, antes de entrar no aparelho, olharam demoradamente em torno, como se quisessem guardar na memória tudo o que pudessem do país que deixavam. Em seguida, viraram-se para o balcão do aeroporto, onde estávamos, e despediram-se acenando. Adolpho, a meu lado, chorava como uma criança.
Minutos depois, o avião decolou. Era pouco mais de meia-noite.O esquema montado pelo Brigadeiro funcionara com perfeição.”