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“Chegando ao Rio, Glauber apresentou Barreto a todos nós e fez Roberto Farias chamá-lo para escrever um roteiro baseado em recente e muito divulgado assalto comandado por um carismático bandido de favela, o Tião Medonho. Roberto era o realizador de um filme do qual gostávamos muito, Cidade ameaçada, precursor do Cinema Novo urbano. Barreto ia acabar se tornando também coprodutor de O assalto ao trem pagador, através de empréstimo obtido do Banco Nacional de Minas Gerais, dirigido por José Luiz de Magalhães Lins, amigo de seus amigos.”
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“Quanto aos bancos, Barreto foi o pioneiro na busca de recursos deles, sobretudo por causa de suas relações com o banqueiro José Luiz de Magalhães Lins, diretor do Banco Nacional de Minas Gerais, que era assessorado por intelectuais como Otto Lara Resende, Jânio de Freitas, Armando Nogueira e Raimundo Wanderley dos Reis. Embora fosse o principal responsável pelo financiamento de nossos primeiros filmes, o Nacional não era o único banco a que recorríamos. Paulo Mello Ourívio, meu colega de Santo Inácio, emprestou-nos dinheiro para alguns filmes, através do Banco Irmãos Guimarães. Assim como o Banco Mineiro do Oeste financiou outras produções, graças ao banqueiro João Pires, conhecido pelo apropriado apelido de Joãozinho Mamãe. Podia demorar, mas nenhum desses bancos deixou de recuperar o dinheiro emprestado para fazermos nossos filmes. O próprio José Luiz de Magalhães Lins dá esse testemunho em livro autobiográfico.”
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“Minha primeira alternativa para arrumar recursos e continuar o filme era Ruy Solberg, amigo da PUC e até hoje um irmão, que fizera uma pontinha em Ganga Zumba como o Capitão do Mato que persegue escravos fugidos. Ele conhecia José Luiz de Magalhães Lins, tinha intimidade suficiente para ir ver o lendário banqueiro na sua própria casa. Afraninho Nabuco, o mesmo que me pusera para dentro na festa para Fidel Castro, cunhado do banqueiro, também ajudaria.
Desfeito o acordo com a Tabajara, a distribuição do filme estava liberada — podíamos tentar adiantamento de um distribuidor como Herbert Richers, que distribuía Vidas Secas, ou Jarbas Barbosa, que produzia Os fuzis.
Conhecia os dois formalmente, mas estava disposto a procura-los quando recebi um recado de Luiz Carlos Barreto. Zé Luiz, por intermédio de Raimundo Wanderley dos Reis, o Dico, que ocupava uma diretoria do banco, pedira a Barreto e Roberto Farias, vindos do grande sucesso de O assalto ao trem pagador, que vissem o material de Ganga Zumba e confirmassem se era mesmo merecedor do empréstimo solicitado por Ruy e Afraninho ao banco.
Barreto e Roberto relataram favoravelmente à demanda e Zé Luiz decidiu liberar o empréstimo necessário à finalização do filme, mas preferia fazê-lo…”
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“Enquanto não pagávamos nossa dívida com o banco, eu e Jarbas íamos enfrentando Juarez Ferreira, o gerente que nos cobrava o que devíamos, entre uma e outra renovação do papagaio. Juarez era um homem aparentemente frio em seu ofício, que nos brindava sempre com um bordão: “Não sei por que o doutor Zé Luiz empresta dinheiro a vocês”. Mas gostava de conversar e ria das histórias que contávamos de nossas vidas de cineastas, sempre recheadas de alguns enfeites para agradá-lo um pouco mais.
Antes do lançamento de Ganga Zumba, sem um tostão no bolso, voltei a morar com meus pais por uns tempos. Uma manhã, passava de dez horas quando minha mãe atendeu o telefone. Juarez perguntava por mim, ela disse que eu estava dormindo, ele mandou que me acordasse. “Quem deve a banco não pode dormir até às dez horas da manhã”, disse. Zairinha entrou em pânico e foi preciso que lhe explicasse que aquilo era o jeito dele, que o Banco Nacional de Zé Luiz e Dico Wanderley jamais me protestaria um papagaio. E ninguém podia ser preso por causa de dívida.”
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“O vazio e a depressão teriam sido muito mais dramáticos se eu não tivesse permanecido em liberdade, na expectativa de minha primeira viagem à Europa, entre fins de abril e início de maio, para acompanhar Ganga Zumba na Semana da Crítica do Festival de Cannes. Como o convite era oficial, Arnaldo Carrilho me garantia a passagem do Itamaraty. E Dico Wanderley dos Reis conseguira, junto a Zé Luiz, o empréstimo de um dinheirinho do Banco Nacional para que eu pudesse viajar…”
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“Estávamos terminando as filmagens, quando Augusto conseguiu de Ana Lúcia Magalhães Pinto e seu irmão Marcos um investimento do Banco Nacional contra direitos sobre a renda do filme. Desde a saída de José Luiz de Magalhães Lins, o Banco Nacional havia abandonado o cinema…”