José Luiz de Magalhães Lins

Trechos de Livros

Vida de Cinema

Antes, durante e depois do Cinema Novo

Cacá Diegues

Páginas 113/114

“Chegando ao Rio, Glauber apresentou Barreto a todos nós e fez Roberto Farias chamá-lo para escrever um roteiro baseado em recente e muito divulgado assalto comandado por um carismático bandido de favela, o Tião Medonho. Roberto era o realizador de um filme do qual gostávamos muito, Cidade ameaçada, precursor do Cinema Novo urbano. Barreto ia acabar se tornando também coprodutor de O assalto ao trem pagador, através de empréstimo obtido do Banco Nacional de Minas Gerais, dirigido por José Luiz de Magalhães Lins, amigo de seus amigos.”

Página 148

“Quanto aos bancos, Barreto foi o pioneiro na busca de recursos deles, sobretudo por causa de suas relações com o banqueiro José Luiz de Magalhães Lins, diretor do Banco Nacional de Minas Gerais, que era assessorado por intelectuais como Otto Lara Resende, Jânio de Freitas, Armando Nogueira e Raimundo Wanderley dos Reis. Embora fosse o principal responsável pelo financiamento de nossos primeiros filmes, o Nacional não era o único banco a que recorríamos. Paulo Mello Ourívio, meu colega de Santo Inácio, emprestou-nos dinheiro para alguns filmes, através do Banco Irmãos Guimarães. Assim como o Banco Mineiro do Oeste financiou outras produções, graças ao banqueiro João Pires, conhecido pelo apropriado apelido de Joãozinho Mamãe. Podia demorar, mas nenhum desses bancos deixou de recuperar o dinheiro emprestado para fazermos nossos filmes. O próprio José Luiz de Magalhães Lins dá esse testemunho em livro autobiográfico.”

Página 164

“Minha primeira alternativa para arrumar recursos e continuar o filme era Ruy Solberg, amigo da PUC e até hoje um irmão, que fizera uma pontinha em Ganga Zumba como o Capitão do Mato que persegue escravos fugidos. Ele conhecia José Luiz de Magalhães Lins, tinha intimidade suficiente para ir ver o lendário banqueiro na sua própria casa. Afraninho Nabuco, o mesmo que me pusera para dentro na festa para Fidel Castro, cunhado do banqueiro, também ajudaria.

Desfeito o acordo com a Tabajara, a distribuição do filme estava liberada — podíamos tentar adiantamento de um distribuidor como Herbert Richers, que distribuía Vidas Secas, ou Jarbas Barbosa, que produzia Os fuzis.

Conhecia os dois formalmente, mas estava disposto a procura-los quando recebi um recado de Luiz Carlos Barreto. Zé Luiz, por intermédio de Raimundo Wanderley dos Reis, o Dico, que ocupava uma diretoria do banco, pedira a Barreto e Roberto Farias, vindos do grande sucesso de O assalto ao trem pagador, que vissem o material de Ganga Zumba e confirmassem se era mesmo merecedor do empréstimo solicitado por Ruy e Afraninho ao banco.

Barreto e Roberto relataram favoravelmente à demanda e Zé Luiz decidiu liberar o empréstimo necessário à finalização do filme, mas preferia fazê-lo…”

Página 168

“Enquanto não pagávamos nossa dívida com o banco, eu e Jarbas íamos enfrentando Juarez Ferreira, o gerente que nos cobrava o que devíamos, entre uma e outra renovação do papagaio. Juarez era um homem aparentemente frio em seu ofício, que nos brindava sempre com um bordão: “Não sei por que o doutor Zé Luiz empresta dinheiro a vocês”. Mas gostava de conversar e ria das histórias que contávamos de nossas vidas de cineastas, sempre recheadas de alguns enfeites para agradá-lo um pouco mais.

Antes do lançamento de Ganga Zumba, sem um tostão no bolso, voltei a morar com meus pais por uns tempos. Uma manhã, passava de dez horas quando minha mãe atendeu o telefone. Juarez perguntava por mim, ela disse que eu estava dormindo, ele mandou que me acordasse. “Quem deve a banco não pode dormir até às dez horas da manhã”, disse. Zairinha entrou em pânico e foi preciso que lhe explicasse que aquilo era o jeito dele, que o Banco Nacional de Zé Luiz e Dico Wanderley jamais me protestaria um papagaio. E ninguém podia ser preso por causa de dívida.”

Página 175

“O vazio e a depressão teriam sido muito mais dramáticos se eu não tivesse permanecido em liberdade, na expectativa de minha primeira viagem à Europa, entre fins de abril e início de maio, para acompanhar Ganga Zumba na Semana da Crítica do Festival de Cannes. Como o convite era oficial, Arnaldo Carrilho me garantia a passagem do Itamaraty. E Dico Wanderley dos Reis conseguira, junto a Zé Luiz, o empréstimo de um dinheirinho do Banco Nacional para que eu pudesse viajar…”

Página 536

“Estávamos terminando as filmagens, quando Augusto conseguiu de Ana Lúcia Magalhães Pinto e seu irmão Marcos um investimento do Banco Nacional contra direitos sobre a renda do filme. Desde a saída de José Luiz de Magalhães Lins, o Banco Nacional havia abandonado o cinema…”