José Luiz de Magalhães Lins

Vida Profissional

BANERJ

O futuro presidente do Banerj (O Globo, 04 de fevereiro de 1979)
 

JOSÉ LUIZ – MINEIRO, MECENAS E ANTIBUROCRATA

José Luiz de Magalhães Lins vai fazer em abril 50 anos de idade, o que quer dizer que nasceu antes da reforma ortográfica, pela qual Luís passou a se escrever com s. Nasceu em Arcos, perto de Formiga, como ele próprio explica aos que não sabem onde é Arcos, nem muito menos onde fica Formiga, que não chega a ser ponto de referência. Mas ambas as cidades, Arcos e Formiga, eram há meio século duas cidadezinhas perdidas no Oeste de Minas. Isoladas e montanhosas, como todas as cidades daquela época, em particular as do Oeste de Minas, que, segundo João Guimarães Rosa, é, de todas as tristezas, a zona mais triste de Minas. O pai de José Luiz, Edmundo Lins Júnior, andava por essa época numa tentativa de fixar-se no interior, com estabelecimento próprio. O estabelecimento era uma serraria, aventura que durou pouco e levou José Luiz para o Rio, onde o menino foi criado, desde os 2 anos de idade.

Apesar de criado no Rio, no Engenho Novo, José Luiz conservou-se mineiro dos pés à cabeça. Sua voz é grave, quase rouca, o que o torna macia e afetuosa em qualquer conversa banal. No Rio, José Luiz fez o ginásio e aqui prestou serviço militar. Antes disso, passou 6 meses em Minas, trabalhando na Secretaria de Finanças (hoje da Fazenda). Essa passagem por Belo Horizonte reciclou a mineiridade de José Luiz, que até hoje tem muitas recordações daquele tempo que em parte está retratado no recente livro de sua prima Sonia Lins, “Baticum”, onde ela compara José Luiz ao mangrove e explica que “o mangrove é um emaranhado de raízes e troncos que à primeira vista parece indecifrável. Examinando de maneira mais próxima, vê-se que ele evolui de sua própria estrutura e flutua em águas rasas sobre trançado de raízes e ramos descendentes. Este é o solo que ele próprio fabrica para poder ampliar-se”.

De volta ao Rio, José Luiz trabalhou como fiscal de barreira, o que obrigava a ir diariamente, mal raiava o dia, até a antiga Rio-Petrópolis, em Caxias. Mas o serviço público não era ainda o destino de José Luiz.

Ingressou, então, na vida bancária, no Banco Nacional de Minas Gerias, como qualquer anônimo. Foi escriturário e datilógrafo.

Com o crescimento do Banco, José Luiz  foi-se fazendo notar e galgando naturalmente os postos, até a gerência. Em seguida, tornou-se assessor da Diretoria. Foi ali que José Luiz começou a conhecer e a tornar-se conhecido de muitas futuras relações cariocas. Em pouco se distinguia no Banco, de que veio a ser diretor e grande acionista, e, sem deixá-lo, passou pela direção da Cia. Atlântica de Seguros. Fundou a Nacional Seguros.

Como banqueiro, José Luiz de Magalhães Lins notabilizou-se por uma série de iniciativas inovadoras, sobretudo no campo do estímulo a atividades artísticas e culturais. Financiou vários filmes brasileiros, assistiu financeiramente editoras, criou o sistema de vendas a prazo de obras de arte (foi sócio de José Carvalho na “Petite Galerie”, que revolucionou o mercado das artes plásticas). Sempre esquivo e arredio à publicidade, José Luiz tornou-se todavia extremamente conhecido e até mesmo popular, já que sua presença estava por toda a parte – até no futebol, quando foi conselheiro de Garrincha (cujo filme financiou).

Homem metódico, de hábitos frugais. Reservado e obstinado na perseguição nos objetivos, José Luiz é fisicamente o mineiro padrão, a crer nas definições de mineiro que datam de Saint Hilaire. Magro, seco, alto, reservado, veste-se sempre de preto. Detesta sair de sua rotina, que começa muito cedo, com a leitura dos jornais. Vai cedo para o escritório, na Atlântica-Boavista. É diretor do Conselho de Administração do Grupo Atlântica-Boavista de Seguros. Metódico em tudo, José Luiz, a despeito de sua memória prodigiosa, tem o hábito de anotar tudo que lhe pareça de interesse e, em meio à conversa, é freqüente vê-lo retirar um cartão do bolso e escrever alguns sinais indecifráveis, que ele depois passa para um caderno de capa preta onde anota todos os compromissos e todos os itens de seu cotidiano. Tem horror à burocracia e nunca deixa juntar papel em sua mesa, que por isto dispensa gavetas. Trabalha intensamente e depressa, com o máximo de concentração no que faz. Dá e recebe inúmeros telefonemas, através dos quais se mantém informando de tudo que se passa na empresa, na cidade, no mundo dos negócios, no país.

Casado com Nininha (Maria do Carmo) Nabuco de Magalhães Lins, tem quatro filhos: Ana Cecília, Maria Cristiana, José Antonio e José Luiz. É homem de vida caseira, extremamente familiar. Fez algumas viagens aos Estados Unidos e à Europa, mas agora prefere não sair do Rio, nem para subir a Petrópolis, que considera superada depois da invenção do ar refrigerado. Aliás, para evitar casa de veraneio, José Luiz tem uma casa no Alto da Boa Vista, onde passa grande parte do ano, quando não está na sua casa da rua Icatu.

Cultivando com fidelidade velhos amigos, José Luiz pouco aparece  em público, detesta publicidade ou divulgação de seu nome e só comparece a festas ou reuniões de pouca gente. Sua vida social é discreta. Almoça no escritório, quase sempre em companhia de um dos dois amigos íntimos. Gosta do que comeu em criança, ou seja, tem preferência pela comida mineira. Só bebe gin, com muito gelo, marca Tanqueray. Gosta de cinema. Dorme muito pouco. Como empresário, José Luiz valoriza ao máximo a eficiência no trabalho e é de uma pontualidade britânica. Há anos desenvolve uma campanha para que todos os encontros se fizessem mediante hora previamente marcada, para acabar e limitar, ao mínimo, a perda de tempo.

Acompanhando de perto toda a vida pública, José Luiz não quis até hoje exercitar as suas qualidades de homem público, apesar das numerosas oportunidades e dos convites insistentes que teve. Colaborou, porém, com a vida pública, através das relações que mantém e como conselheiro prudente, objetivo e extraordinariamente atilado. Convidado várias vezes para altos cargos, só uma vez deixou a linha de sua atuação de financista, quando aceitou a presidência da Light, da qual se afastou. A presidência do Banerj é a primeira missão que tem José Luiz de Magalhães Lins na vida pública e, num certo sentido, é continuidade da sua formação profissional.

Relatório Confidencial

Performance

Publicidade & Negócios (O Popular, 09 de janeiro de 1980)

Cunha Jr.

O Popular – Goiânia – 09 de janeiro de 1980

 

“- Repercutiu muito bem nos meios financeiros, a precisão com que o Banerj publicou seu balanço nacional referente ao exercício de 79, em 2 de janeiro próximo passado, acusando um lucro de Cr$ 454.037.892,54, pagando dividendos na base de 12,82%. Também, é preciso que se diga que seu presidente é José Luiz de Magalhães Lins…”